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FALTA DE MÃO DE OBRA JÁ INCOMODA MENOS A CONSTRUÇÃO CIVIL © 2000 – 2012. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS AO VALOR ECONÔMICO S.A. . VERIFIQUE NOSSOS TERM

15.04.2013

Muita coisa para construir, pouca gente para fazer. O quadro que, até pouco tempo atrás, tirou o sono dos empresários da construção civil, acirrou a disputa pelos trabalhadores e consagrou um período em que atraso nas entregas era a regra, começa aos poucos a deixar a rotina do setor.

A escassez de mão de obra qualificada é a preocupação que mais perde espaço entre os empresários do setor: sondagem feita mensalmente pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que, em março, o item foi apontado como a maior limitação aos negócios por 34% dos entrevistados, considerando-se tanto mercado imobiliário como infraestrutura.

O "apagão" profissional é ainda o primeiro na lista de problemas, mas a queda é expressiva - em março de 2011 e de 2012, essa porcentagem era de 44% e 41%, respectivamente. Essa preocupação vem perdendo espaço para outros quesitos, como a demanda fraca, justamente a preocupação que mais cresce: saiu de 11% e 12% em 2011 e 2012. para 20% em março de 2013.

"O problema da falta de mão de obra é uma coisa que já está acabada", diz o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), Paulo Safady. "O ano de 2010 foi uma loucura, havia uma perspectiva irreal de um crescimento muito alto e continuado, as empresas demandavam muita mão de obra e não tinham alternativa a não ser atrasar as obras. Em 2011 e 2012, isso foi amenizado, o crescimento foi mais baixo e agora essa necessidade se tornou muito menor."

O cenário se reflete nas contratações do setor, que estão entre as que mais caem no país. Enquanto o saldo total entre admissões e demissões em todos os segmentos da economia foi 35% menor nos 12 meses encerrados em fevereiro, a queda apenas na construção foi de 51%, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

Levantamento feito pela FGV, com a inclusão de serviços como engenharia e acabamento nas estatísticas de emprego, mostra que em 2012 o saldo de contratações caiu para 95,7 mil, 69% menos que em 2011, e abaixo até de 2009, quando, mesmo afetado pela crise internacional, o setor abriu 266,4 mil vagas. Em 2010, ano em que a construção atingiu seu pico, depois de quase duas décadas de estagnação, foram 452,6 mil novos postos de empregos formais.

A busca por mão de obra acompanha uma atividade já menos aquecida. "Estamos longe de uma crise, mas desde o ano passado o ritmo de crescimento é mais lento, com infraestrutura um pouco melhor e uma clara desaceleração no segmento imobiliário", disse Ana Maria Castelo, coordenadora da sondagem da construção civil na FGV. Em 2012, o número de lançamentos imobiliários na região metropolitana de São Paulo caiu 19% em relação a 2011, para um total de 53,9 mil novos empreendimentos, segundo dados do Secovi-SP, sindicato da habitação de São Paulo. Exceto por 2009, desde 2007 não se fechava um ano com menos de 60 mil lançamentos na capital.

No segmento de infraestrutura, por outro lado, Copa do Mundo e obras urbanas ainda garantem um certo nível de atividade, mas as indefinições nos pacotes de concessões do governo federal, como no caso de rodovias e ferrovias, deixam o setor em suspenso.

Isso não significa, no entanto,, que a construção civil está em crise ou à beira de uma crise, diz Ana. A previsão é de leve retomada nos próximos meses, puxada principalmente por infraestrutura e por um PIB que deve crescer até 4% neste ano, acima das projeções para o PIB nacional, de 3%. No ano passado, a construção civil cresceu 1,4%, acima da expansão do país, que foi de apenas 0,9%.

Apesar disso, o ritmo mais brando de atividade muda, ou pelo menos exige alguns ajustes, na rotina dessas empresas. "Em 2010, ouvíamos muita reclamação de empresas que investiam no treinamento de seus funcionários, e logo depois vinha outra, oferecia um salário maior e levava o funcionário embora. Isso era comum", contou a coordenadora da FGV. "Agora, está bem mais reduzido."

Haruo Ishikawa, vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), aponta também para o fato de que, diferentemente de três ou quatro anos atrás, a quantidade de profissionais treinados e com experiência já é bem maior. "A construção civil ficou mais de 20 anos parada e, em 2010, simplesmente não existia mão de obra com experiência. Todo mundo havia ido para outros setores", diz.

Engenheiros civis estavam em áreas como telecomunicações e mercado financeiro, e técnicos - como pedreiros e instaladores hidráulicos - haviam ido para o comércio e mesmo para o subembrego, como catadores de sucata, por exemplo. Funcionários analfabetos, outra coisa comum no passado, são cada dia mais raros em um canteiro de obra.

"Hoje, a mão de obra já foi treinada e está muito mais produtiva. Para conseguir um engenheiro em 2010, por exemplo, tínhamos que pegar o jovem cru da faculdade e prepará-lo. Hoje, são pessoas que já estão no mercado há algum tempo", disse o vice-presidente do Sinduscon-SP.

Isso não significa que a busca pela mão de obra qualificada, desde o engenheiro até o ajudante de obra, não exista mais para a construção civil. A falta de qualificação, de familiaridade com novas tecnologias e de produtividade são problemas ainda bastante citados pelos empresários, que acreditam que isso se ajuste aos poucos, entre a desaceleração e o amadurecimento do segmento. "O setor está bem, continua contratando e as perspectivas para 2013 são positivas. Só não serão mais as mesmas taxas de 2010. Hoje estamos em um patamar muito mais realista", disse Safady.