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CONSTRUTORAS QUEREM MENOS ENTRAVES

14.06.2013

Luís Yuaso
O bom desempenho do setor depende de várias soluções, mas o problema de escassez de mão de obra foi contornado.
 A escassez de mão de obra ainda é uma questão que faz parte da agenda dos dirigentes das empresas de construção civil. Mas já não tira o sono de nenhum deles. Os investimentos em capacitação e o próprio aumento da remuneração dos trabalhadores de todos os níveis do setor têm sido suficientes para fazer as companhias continuarem bancando um crescimento acima do PIB nacional há pelo menos quatro anos - de acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a última vez que o PIB do segmento ficou abaixo do brasileiro foi em 2009. No entanto, para o Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (SindusConSP), é hora de o governo fazer a sua parte: investir em infraestrutura e simplificar a complexa legislação que permeia o setor.
 "E preciso racionalizar as normas. Atualmente, está muito difícil fazer com que um projeto seja aprovado em menos de um ano e meio. E o problema é nacional, visto que a legislação c muito complexa c realmente dificulta a entrega de projetos", afirma o vice-presidente de economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan. Que estima que o período poderia cair para seis meses se houvesse, além da desburocratização do segmento, ampliação do quadro de técnicos para estudo da documentação.
 Uma reclamação recorrente entre as empresas de construção civil é a lentidão apresentada pelos cartórios para a emissão do memorial de incorporação, documento necessário para iniciar a comercialização dos imóveis. A Lei Federal 4.591, que regula as incorporações imobiliárias, prevê um prazo de 15 dias para que os cartórios analisem e forneçam as exigências para a aprovação dos projetos. Após a incorporadora apresentar a documentação, a certidão sai em mais 15 dias. Isso é a teoria. Na prática, as empresas reclamam da morosidade dos cartórios e da complexidade da lei, enquanto os cartórios alegam que recebem a documentação fora do padrão necessário para dar andamento ao processo.
 Outro problema com que as construtoras se deparam em capitais como São Paulo é a dificuldade para acertar a logística das obras, por causada restrição da circulação de caminhões em horários de pico. Isso porque, como a entrega e o recebimento de mercadorias dificilmente são feitos no período noturno o processo pode causar muito barulho e a maioria das cidades tem leis de silêncio, as construtoras são obrigadas a concentrar suas logísticas em pequenos intervalos de tempo, o que, segundo Zaidan, provoca crescimento no registro de roubos cm obras e consequente aumento de gastos com a contratação de empresas e pessoal de segurança.
 Além dos problemas citados, Zaidan alerta que a própria deficiência dc infraestrutura nas cidades brasileiras acaba comprometendo as operações. Ele conta que em época de chuvas, por exemplo, os trabalhos ficam comprometidos, não só pela dificuldade de se trabalhar sob mau tempo, mas pelas enchentes, comuns em diversas regiões do País. Segundo ele, há casos em que as construtoras têm de arcar com aluguéis dispendiosos e por hora de equipamentos e ficam sem poder operar por causa de atrasos na entrega de insumos causados por enchentes e pelo próprio trânsito caótico de cidades como São Paulo.
 Mão de obra já não preocupa.
 Curiosamente, a escassez de mão de obra, um dos grandes problemas do setor nos últimos anos, parece estar sendo solucionada. A saída, segundo Zaidan, foram a proliferação dos cursos de capacitação e a própria experiência de campo acumulada pelos profissionais nos últimos anos, o que contribuiu para a melhora da produtividade dos operários, além da valorização dos salários, que fez com que eles continuassem no setor. "Em 2006, havia cerca de 1,6 milhão de trabalhadores na construção civil, hoje temos 3,5 milhões. Quando absorvemos estes colaboradores, a produtividade (por conta da falta de experiência de grande pane) era baixa. Mas quem entrou naquela época, continua até hoje, porque temos dissídios bem acima da inflação", explica.
No Minha Casa, Minha Vida faltam áreas
 Um estudo realizado por meio de uma parceria entre o Sindicato da Indústria da Construção do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV) apontou que a carência de terrenos é o maior entrave para a execução de projetos do programa Minha Casa, Minha Vida. A falta de áreas para construir atingiu 78,8 pontos - em uma escala de 0 a 100, em que o número mais alto aponta a maior dificuldade - em pesquisa feita com 66 construtoras do Brasil que atuam no programa.
Na sequência, entre as maiores dificuldades apontadas pelas construtoras, estão os processos de aprovação junto a órgãos do governo do Estado (77,3 pontos), a contratação de mão de obra qualificada (75,3 pontos), legalização para entrega dos empreendimentos (73,5 pontos) e serviços de cartórios (73 pontos). 0 único item apontado como de pouca dificuldade foi a fiscalização das obras (42,7 pontos).
A pesquisa foi divulgada em workshop realizado na sede do SindusCon-SP no final de abril. No evento, a coordenadora de projetos de construção civil da FGV, Ana Maria Castelo, mostrou um estudo do impacto que o não cumprimento da meta do programa teria na economia do País. De acordo com cálculo, sem a contratação de cerca de 300 mil moradias da faixa 1 entre 2011 e 2014, o Brasil deixaria de gerar RS 15,7 bilhões em valor agregado, além de uma diminuição de quase 400 mil postos de trabalho e uma queda de R$ 4,6 bilhões em arrecadação de tributos.

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