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TESTE DO "CORRESPONDENTE BANCÁRIO" EMPERRA

14.09.2010

Empresas que não tinham hábito de trabalhar com a CEF muitas vezes ainda cometem erros

 

O programa piloto criado pela Caixa Econômica Federal para acelerar o programa Minha Casa, Minha Vida não decolou como o previsto. Iniciado no primeiro semestre, o teste com as construtoras - que ganharam autonomia para assumir boa parte do processo de análise de crédito dos compradores de imóveis - está lento e abaixo das expectativas tanto da instituição, quanto das empresas, apurou o Valor.

 

O banco elegeu um grupo de empresas - as principais construtoras do país, entre elas, MRV, Cyrela, Goldfarb, Rossi e Gafisa - que passaram a atuar como "correspondentes bancários" e, assim, puderam ter acesso ao próprio sistema de avaliação de crédito da Caixa. Toda a parte burocrática de unir documentos, checar fundo de garantia, levantar declaração e comprovante de renda - um trabalho feito tradicionalmente nas agências - passa para o correspondente bancário, que faz uma pré-avaliação do crédito do cliente. Tudo on-line.

As metas iniciais previam que a concessão do crédito fosse feita em até sete dias, contra 30 e 40 dias, em média pelo método tradicional, dependendo do cliente - o que ainda não está acontecendo. O programa deveria rodar no Feirão da Caixa, em maio, mas também não foi possível. O piloto foi bem recebido desde o início porque a capacidade operacional da Caixa - ainda que o banco tenha reduzido a burocracia após o programa -sempre foi uma das maiores preocupações das empresas e dos investidores, inclusive estrangeiros, no caso das abertas.

Como em todo teste - principalmente quando envolve integração de sistemas - os problemas apareceram no momento da execução. O motivo é um só: embora as empresas tenham pressa em acelerar o processo e contribuir com a instituição - até por uma questão de fluxo de caixa - o banco manteve as rédeas na análise de crédito. Não pode correr o risco de ter um problema de inadimplência daqui a alguns anos para garantir que se alcance a cifra de 1 milhão de casas previstas na primeira fase do programa.

O efeito imediato é a lentidão dos repasses ou desligamentos - momento no qual o cliente sai da construtora, a Caixa assume o financiamento e a empresa recebe os recursos. "Na aprovação dos projetos, o programa caminha bem, mas emperra nos repasses", afirma um analista do setor de construção civil. "O programa foi muito importante como vetor de crescimento para o setor, mas o gargalo que todos temiam, está se tornando realidade agora."

Para as empresas, o problema maior está no caixa e na falta de capital de giro de algumas delas para dar andamento aos projetos - sobretudo as menores. Muitas companhias estão passando meses com centenas de aprovações pendentes. A própria Caixa admite que há gargalos nessa fase de transição.

No caso do Minha Casa, Minha Vida, o repasse corresponde a 100% do valor da construção e acontece durante a obra. E, quanto maior o número de mutuários repassados à Caixa , maior o volume de capital recebido. Já no crédito associativo - modelo tradicional de financiamento, que possibilita o uso do fundo de garantia - o desligamento acontece após a entrega das chaves e contempla 80% do custo da construção. E esse foi justamente um dos grandes atrativos do programa para companhias de todos os portes - permite exposição de caixa menor e menos capital intensivo para operar.

Há reuniões semanais entre as empresas e a Caixa e as últimas têm sido mais tensas. Empresas que não tinham hábito de trabalhar com a CEF estão atrapalhadas e, muitas vezes, ainda cometem erros. "A caixa está cobrando. Quer volume, quer que dê certo, mas mantém o rigor do processo", diz fonte envolvida no processo.

O projeto é cheio de idas e vindas. Em um determinado momento, as próprias construtoras deixaram de atuar como correspondentes. Para evitar conflitos de interesses - afinal quem apresenta os dados e analisa o crédito é quem se beneficia com o recebimento do dinheiro - as empresas passaram a indicar um terceiro para fazer esse papel. São pequenas assessorias imobiliárias, geralmente empresas do próprio grupo, que recebem o aval da Caixa.

Atualmente, segundo a Caixa informou ao Valor, por e-mail, as empresas puderam voltar a fazer o processo, uma vez que a palavra final é da Caixa. Na Cyrela, duas empresas atuam como correspondentes, a PZM e RCI. Na MRV, além da ACI de Campinas, a própria empresa faz o trabalho.

Consultado pela reportagem, o Banco Central informou, através de sua assessoria, que a regulamentação em vigor permite a contratação, por parte de instituições financeiras, de empresas para o desempenho das funções de correspondentes. Essas empresas podem receber e encaminhar pedidos de empréstimos e de financiamentos, fazer análise de crédito e cadastro e outros serviços de controle, inclusive processamento de dados. "A contratação está sujeita a uma série de condições, entre elas que a contratação de correspondente deve ser objeto de comunicação ao Banco Central do Brasil e que os os contratos referentes à prestação de serviços de correspondente devem incluir cláusulas prevendo a total responsabilidade da instituição financeira contratante sobre os serviços prestados pelo correspondente e o integral e irrestrito acesso do Banco Central do Brasil, por intermédio da instituição financeira contratante, a todas as informações, dados e documentos relativos ao correspondente".

De maneira geral, as empresas envolvidas dizem que o sistema está se aperfeiçoando e que o nó tende a desatar em breve. O cuidado em citar a Caixa é enorme. "Trata-se de um sistema complexo e trava muito mais por causa das próprias empresas", afirma fonte de uma grande companhia. "Todo mundo se empenha porque é esse o caminho para dar vazão ao volume que já existe e que ainda está para vir", diz o diretor de outra grande.

A questão é mais complicada no caso de clientes com renda informal. Nesse caso, trata-se de um processo mais complexo, que considera parâmetros históricos, renda presumível e movimentação bancária. Nos dois casos, a palavra final é dada pela Caixa.

Para as empresas menores, o atraso no repasse acaba sendo um problema maior porque o fluxo de caixa é naturalmente mais apertado. As margens para quem atua no programa já são mais apertadas. O INCC subiu 6,18% desde o início do ano, enquanto os preços do Minha Casa, Minha Vida estão fixos (são de, no máximo, R$ 130 mil em determinadas capitais). As companhias esperam uma revisão dos valores máximos estipulados pelo programa na segunda fase do Minha Casa, Minha Vida.

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