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BICICLETAS EM CONDOMÍNIOS

15.06.2015

Desde o início do ano de 2014 a cidade de São Paulo está se acostumando com as ciclovias e ciclofaixas, cuja implantação gerou muita polêmica entre os paulistanos.  Como  todo  processo  de mudança de cultura em uma sociedade, existem pontos de vista favoráveis e desfavoráveis, porém no caso específico das  bicicletas há  uma certa  unanimidade  de  que  o  transporte por meio das “magrelas” é algo benéfico, desde que não  atrapalhe o trânsito de veículos e proporcione segurança tanto para ciclistas quanto para pedestres.

O que se discute muito é a maneira que a Prefeitura de São Paulo está implantando  as  ciclovias,  tanto  no aspecto construtivo quanto no aspecto de traçado das rotas. Porém são pouquíssimos  aqueles  que  são  contra  o uso de bicicletas  nos  grandes centros urbanos. A grande maioria dos edifícios residenciais  da  cidade  de  São  Paulo  sequer  possui  vagas  para  bicicletas  nas garagens e  os moradores improvisam o  estacionamento  com  ganchos  nos subsolos ou mesmo dentro das unidades habitacionais. O mesmo acontece em edifícios corporativos e de escritórios, onde a oferta de vagas é mínima e, em  boa  parte  dos  edifícios  corporativos  sustentáveis  e  certificados,  o  uso das  vagas  de  bicicletas  é  restrito  aos condôminos. Neste  caso,  mesmo que um  cidadão  consiga  ir  de  casa  para  o trabalho de bicicleta, terá que utilizar outro  meio  de  transporte  para  fazer uma reunião com seu cliente, mesmo que ele ocupe um edifício teoricamente sustentável.

Hoje, o  que temos no município de São Paulo é uma regulamentação para destinar no máximo 10% das vagas de estacionamento para bicicletas em edifícios novos, algo totalmente incompatível  com  uma  política  municipal  de incentivo  ao  deslocamento  realizado por bicicletas. O  aumento  do  número  de  ciclistas na cidade levará também ao aumento do número de bicicletas, o que demandará uma readequação dos edifícios para acomodar este modo de transporte.

O novo Plano Diretor Estratégico (PDE) do Município de São Paulo deixa uma lacuna relevante no que tange ao aumento do número de vagas para bicicletas  e,  ainda,  não  especifica  exatamente como será a gestão do estacionamento  para  este  tipo  de  veículo  nos condomínios. Existe uma discussão muito grande sobre a restrição de vagas de garagem para carros e boa parte dos novos edifícios da cidade poderá ter somente um espaço  por  apartamento.  Entretanto, uma vez que a regra do Plano Diretor Estratégico é clara para restringir veículos,  é insuficiente  para  absorver  o aumento do número de bicicletas. Uma maneira interessante de preparar as construções para o uso de bicicletas  seria  tornar  os  estacionamentos áreas não computáveis, com uma restrição de capacidade de no mínimo 1,5 bicicleta por unidade habitacional. Desta  forma, os empreendedores do mercado imobiliário poderão qualificar seus empreendimentos e de fato oferecer alternativas mais concretas à sociedade para os deslocamentos, não necessariamente obrigando as pessoas a utilizarem uma malha de transporte público de péssima qualidade.

Existem inúmeros casos de políticas públicas de incentivo à mobilidade urbana não motorizada que deram certo, principalmente em cidades da Europa e também em algumas cidades litorâneas do Brasil, entre elas o Rio de Janeiro. A cidade de Amsterdam na Holanda é conhecida com a capital mundial das bicicletas, com dados  bastante interessantes. Lá existem mais bicicletas do que habitantes e a frota de bikes é quatro vezes maior do que a frota de carros. Além disso, os deslocamentos de bicicleta são 50% maiores do que os deslocamentos de carros e a cidade conta com uma infraestrutura de ciclovias muito bem resolvida.

O planejamento da atual prefeitura é de construir 400km de ciclovias e/ou ciclofaixas até o final do ano de 2016 e, hoje, aproximadamente  metade desta meta já está concluída. Entretanto, fica a dúvida se a medida será eficaz, considerando o aparente descompasso entre construção de ciclovias e a efetiva preparação de uma metrópole e suas construções para novas modalidades de deslocamento.

Luiz Henrique Ferreira - CEO da INOVATECH ENGENHARIA e fundador do INSTITUTO CASA AQUA

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