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DESEMPREGO CAI A NÍVEIS RECORDES, MAS IMPÕE DESAFIOS

31.01.2011

A taxa de desemprego caiu, em dezembro, para 5,3%, a mais baixa da série histórica. Em regiões metropolitanas como as de Porto Alegre (3%), Belo Horizonte (4,3%) e Rio de Janeiro (4,9%), os índices revelam uma possível situação de pleno emprego.

A notícia é alvissareira. Afinal, o objetivo precípuo de toda política econômica é gerar empregos e, de preferência, empregos de boa qualidade. Todavia, como simultaneamente o país vive um momento de aceleração inflacionária, os números trazem algumas preocupações.

Em novembro, a taxa de desemprego foi de 5,7%. A queda para 5,3% no mês seguinte mostra, portanto, uma economia a plenos pulmões. Confirma, por exemplo, que o Brasil já se recuperou inteiramente da grave crise financeira de 2008 e 2009. Analisado em perspectiva, o índice de desemprego também revela o dinamismo desenvolvido pela economia nacional nos anos recentes.

Em 2003, a taxa de desemprego média mensal chegou a 12,4%. No ano passado, caiu a 6,7%. Ao anunciar os números, o gerente da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, procurou esclarecer que, a rigor, o Brasil ainda não vive o pleno emprego. Apesar da forte queda do desemprego nas seis principais regiões metropolitanas, explicou Azeredo, os índices entre elas são desiguais.

De fato, enquanto a taxa de desemprego média mensal de Porto Alegre em 2010 foi de 4,5%, a de São Paulo bateu em 7%, a de Recife em 8,7% e a de Salvador, em 11%. Portanto, não se pode falar em pleno emprego em relação às últimas três capitais. "É muito cedo para se falar em pleno emprego. Temos um país com diferenças regionais bastante precisas", ponderou Azeredo.

Essas diferenças regionais mostram que, à exceção de São Paulo - cujo fenômeno do desemprego mais elevado que o de outras áreas desenvolvidas do país precisa ser mais bem estudado -, o grau de desenvolvimento das principais regiões do Brasil ainda é muito desigual. As distinções estão presentes também nos quesitos percentual de trabalhadores com carteira assinada e renda real média, bastante desfavoráveis nas duas capitais nordestinas.

De toda forma, se não é possível afirmar que exista pleno emprego em todo o país, é razoável admitir que se tenha uma situação-limite em regiões e setores dinâmicos da economia brasileira, como bem alertou em entrevista ao Valor o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros. O ex-ministro mencionou alguns locais onde a mão de obra já é escassa, como Caxias do Sul (RS), segundo maior polo industrial metal-mecânico do país; e Ribeirão Preto (SP), meca do agronegócio brasileiro.

Mendonça de Barros lembrou que, ao contrário do último período de aceleração inflacionária vivido pela economia brasileira, em 2008, desta vez o mercado de trabalho aquecido representa um desafio para o controle da escalada dos preços. Em 2008, a taxa de desemprego estava em torno de 8%, face aos 6,7% do momento atual. A escassez de trabalhadores, em meio a uma economia que funciona a todo o vapor, pode, portanto, pressionar a inflação e limitar a manutenção do atual ciclo de crescimento.

Na ata da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central (BC) expressou preocupação com esse fato ao afirmar que existe uma "estreita margem de ociosidade dos fatores de produção, especialmente de mão de obra". "Em tais circunstâncias", observa a ata, "um risco importante reside na possibilidade de concessão de aumentos nominais de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade." A propósito, por causa da inflação, o rendimento médio real do trabalhador cresceu apenas 3,8% em 2010.

Embora mostre exuberância, o mercado de trabalho nacional tem muito o que evoluir. Afinal, cerca de metade dos trabalhadores ainda atua no lado informal da economia, sem os benefícios assegurados pela Consolidação das Leis do Trabalho. Já passou da hora de as autoridades darem prioridade a medidas que ajudem a formalizar esses trabalhadores, bem como a educá-los, qualificá-los e, quando for o caso, requalificá-los. A dificuldade trazida pela escassez de empregados em alguns setores e regiões apenas torna urgente essa agenda.

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