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ENTULHO RECICLADO GANHA MERCADO NA CONSTRUÇÃO

23.01.2012

A construção do estádio do Itaquerão, em São Paulo, cenário de abertura da Copa 2014, já consumiu mais de 7 mil toneladas de agregados reciclados. Até 2013 serão empregadas 11 mil toneladas. Agregados reciclados substituem matérias-primas virgens e custam menos da metade do preço. Mesmo assim, muitas construtoras ainda oferecem resistência a essa fonte alternativa. Gilberto Meirelles, presidente da Estação Resgate, uma das poucas mais de 130 recicladoras de resíduos da construção civil, encarrega-se do trabalho de convencimento - exatamente como fez na Odebrecht, a empresa responsável pela obra. "Resistimos muito até rastrear o produto, conferir a licença ambiental e fazer o teste prático", conta Marcio Prado, engenheiro da área de produção da Odebrecht. Com a aprovação das áreas de engenharia e meio ambiente, Prado diz que a oferta de Meirelles tornou-se irresistível: em vez de desembolsar R$ 80 pelo metro cúbico de matéria-prima virgem, pagou R$ 36 pela reciclada e, de quebra, ganhou pontos com os acionistas por ter poupado a natureza. A opção da Odebrecht pelos reciclados despertou o interesse da concorrência. "Quatro outras grandes construtoras também passaram a comprar reciclados, a ponto de o produto já estar em falta no mercado", diz Marcio dos Santos, engenheiro de suprimentos da Odebrecht. O negócio de reciclagem de resíduos da construção civil e de demolição (RCD-R) vem crescendo mesmo. Meirelles, que iniciou sua Estação Resgate em 2009 com apenas uma britadora, comanda hoje sete unidades que reciclam 6 mil toneladas ao mês e dispõe de três equipamentos móveis para operar os resíduos nos canteiros de obra de qualquer local do Brasil. O investimento inicial de R$ 1,4 milhão já foi recuperado e Meirelles se dedica agora a analisar as propostas de parcerias. "Como a tecnologia deu certo, agora é só acertar as franquias e replicar o modelo", comemora. Nem todo entulho, contudo, pode ser reciclado como nem tudo que é reciclado pode ser reutilizado em qualquer lugar da obra. Para as sobras da construção civil a tecnologia desenvolvida vai até a utilização dos cinzas (areia, concreto, restos de blocos) e dos vermelhos (cerâmica, tijolos, cacos de telhas), considerados materiais nobres. Na Even, construtora de São Paulo, a reciclagem de cinzas e vermelhos gerou no ano passado 2,8 toneladas de argamassa que representaram uma economia de R$ 200 mil, segundo Silvio Gava, diretor de sustentabilidade. "Fazemos reciclagem dentro das obras desde 2010", diz. "Evitamos assim os gastos com o transporte do entulho e também não mandamos nada para os aterros". Em 2010, segundo Gava, 54% dos resíduos das obras da Even foram reaproveitados no local ou enviados para indústrias de reciclagem. Em 2011, diz, a empresa deixou de enviar para o aterro 70% das sobras. Na Even, a remuneração variável dos funcionários está vinculada ao tratamento correto dos resíduos e à destinação do entulho. O fim dos lixões, previsto em lei para 2014, deve dar início ao plano integrado de gerenciamento de resíduos por parte das 5.565 prefeituras, o que leva as empresas recicladoras a apostar numa explosão do setor. Para tanto, Hewerton Bartoli, diretor comercial da Desmontec, alerta que o setor carece de legislação específica. Bartoli integra a diretoria da Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) e reclama da falta de incentivo do poder público para que a construção civil avance em busca de soluções sustentáveis. "O segmento reciclador não tem Classificação Nacional de Atividades Econômicas e sem isso nem a Receita Federal nos identifica."

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