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REAL DERRETE EM MEIO A MENOR APETITE POR RISCO

10.05.2012

O real brasileiro tangenciou ontem seu ponto mais baixo em relação ao dólar desde julho de 2009, com o câmbio a R$ 1,9649 no pregão da manhã. Esse valor representou uma queda de 4% em relação ao mês anterior. A divisa brasileira registra uma desvalorização de 21% em relação à sua alta recorde de 12 anos atingida em julho passado. O Brasil não pode dizer que é o único responsável pela queda do real. O apetite mundial por risco se voltou contra os mercados emergentes, em meio à turbulência europeia decorrente da crise da dívida soberana. Os preços das commodities, além disso, recuaram em consonância com a desaceleração do crescimento da China. Mas o Brasil também fez sua parte. O primeiro combatente em favor da moeda foi o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, que travou uma batalha solitária durante os anos de "boom" de 2010 e 2011, quando o real parecia pronto para subir para sempre, puxado pela disparada dos preços do minério de ferro, da soja e de outras commodities brasileiras. Neste ano, a presidente Dilma Rousseff assumiu a batalha, frustrada pela repentina desaceleração do crescimento da economia brasileira decorrente do impacto devastador da valorização do real sobre a competitividade da indústria do país. Ela reclamou pessoalmente à chanceler alemã Angela Merkel e ao presidente americano Barack Obama sobre um "tsunami" de dinheiro que inundaria o Brasil em decorrência da permissividade da política monetária praticada pelas economias avançadas. A presidente associou esse esforço a uma "guerra às taxas de juros" voltada contra as exorbitantes taxas cobradas pela concessão de crédito no Brasil. Atacou os bancos brasileiros por cobrança excessiva (a taxa de empréstimo média ao consumidor continua sendo de 44%) e reduziu o retorno garantido pago às cadernetas de poupança. Por seu lado, o Banco Central fez sua parte ao reduzir sua taxa básica, a Selic, que ainda é uma das mais altas dentre todas as grandes economias, descendo aos atuais 9%. A instituição deverá realizar mais cortes, para níveis próximos a baixas recordes de todos os tempos, no fim do mês. Mas será que o governo está simplesmente brincando com os controles do superpetroleiro que é o Brasil, quando os problemas estão na casa de máquinas? Muitos economistas são dessa opinião. Manipular as taxas de câmbio e de juros só vai render resultados de longo prazo se os fundamentos econômicos subjacentes derem sustentação à medida. Embora a maioria dos economistas concorde que essa é uma boa hora para baixar as taxas de juros, as medidas adotadas até agora não vão curar as tendências inflacionárias fundamentais da economia brasileira. Toda vez que a economia voltar a um crescimento superior à tendência, a baixa taxa de investimentos, a falta de competitividade da indústria e a grandeza e o caráter perdulário do governo contribuirão para fomentar um ressurgimento do risco inflacionário. Para consolidar sua vitória nessa fase da guerra cambial, o governo brasileiro precisa convencer o Congresso da necessidade de iniciar uma discussão verdadeira sobre uma segunda geração de reformas. As guerras são ganhas pela liderança, não pela cosmética.

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