ACIGABC

Notícias

RITMO DO CONSUMO NO PIB REPETE O INÍCIO DE 2011

23.04.2012

O consumo das famílias garantiu à demanda interna neste início de ano um crescimento semelhante ao do começo de 2011. No primeiro trimestre daquele ano, o consumo das famílias e os investimentos aumentaram a um ritmo anual de 2,7%. Nos primeiros três meses de 2012, essa taxa ficou entre 2% e 2,5%, segundo cálculos da LCA Consultores, que projeta os resultados trimestrais do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para o período de um ano. O ritmo é semelhante, mas a composição do crescimento é muito diferente entre os dois anos. Enquanto nos primeiros três meses de 2011 o investimento aumentou mais que o dobro do consumo das famílias, no mesmo período deste ano, de acordo com a LCA, os gastos com máquinas, equipamentos e em construção recuou, enquanto a demanda das famílias ficou próxima ao 0,5% de alta registrado no início de 2011. A expectativa da consultoria é de que o ritmo anual de expansão da demanda interna salte para algo entre 5% e 6% no segundo trimestre deste ano, se aproximando dos 6,7% registrados nos três últimos meses de 2010, época em que o governo começou a tomar medidas para esfriar a economia após ter constatado que havia estimulado demais o país para sair da crise financeira mundial de 2009. Esse avanço brusco da demanda interna, porém, não preocupa o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Segundo ele, no primeiro trimestre de 2012, o PIB ainda vai ser puxado pelo consumo das famílias, mas a partir do segundo trimestre haverá uma mudança na composição da demanda interna, com uma forte recuperação dos investimentos. A estimativa da LCA é que o investimento recue 0,7% no primeiro trimestre e depois cresça 3% no segundo, sempre considerando a comparação com o trimestre anterior e feito o ajuste sazonal. "Daí pra frente, o crescimento do Brasil vai ser puxado por investimentos. Consumo terá uma participação menor", diz Borges. Em sua avaliação, o consumo das famílias também continuará crescendo, mas em menor intensidade que a formação bruta de capital fixo. Ele projeta 0,6% no primeiro trimestre e 1% no segundo, sempre na comparação com os três meses anteriores. É devido a essa previsão de mudança na composição do crescimento do país que Borges não vê o risco de a economia passar por uma nova fase de aquecimento exagerado. "Temos uma ociosidade na economia que ainda não foi absorvida. Por isso é possível crescer sem gerar inflação", diz. Essa visão, porém, não é consenso. A Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Tendências Consultoria estão entre as instituições que consideram possível um crescimento muito intenso da demanda interna ainda este ano. "O consumo das famílias está aumentando mais rápido do que deveria. Se continuar assim, o governo vai ser obrigado a novamente colocar o pé no freio lá na frente", afirma a economista da FGV, Silvia Matos. O que preocupa a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências, é o descompasso. "O ideal seria o governo tentar frear o consumo e aumentar o investimento, para ampliar a capacidade produtiva. Mas o que vem acontecendo é exatamente o contrário", destaca. Pelos seus cálculos, o consumo das famílias aumentou 0,8% entre o quarto trimestre de 2011 e o primeiro trimestre de 2012, período em que a formação bruta de capital fixo recuou 1,3%. "Deveremos ver uma melhora nos investimentos no segundo semestre, com os efeitos do afrouxamento monetário e a esperada saída do papel de projetos do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], mas o descasamento com o consumo permanecerá grande". O crescimento da renda, a redução do desemprego, a expansão do crédito e o aumento da confiança do consumidor, enumera Alessandra, sustentam o vigor da demanda. O único fator que podem atenuar o avanço do consumo, em sua avaliação, é o alto nível de comprometimento da renda. "A inflação de serviços está desacelerando bastante, o que pode indicar que as dívidas estão limitando o consumo." O gargalo da expansão econômica brasileira, para o economista-chefe do BanifInvest, Mauro Schneider, não está na demanda interna, mas na oferta. "Com exceção dos serviços, as demais necessidades de consumo estão sendo atendidas pelos importados. Se quisermos continuar crescendo, precisamos aumentar nossa produtividade." Mas, até que os investimentos se transformem em melhor capacidade de produção, lembra Marcelo Kfoury, superintendente do departamento econômico do Citibank, eles permanecem como demanda e, portanto, também influenciam a inflação. O limite do crescimento da demanda, para a economista Fernanda Consorte, do Santander, será imposto pela inflação. Por enquanto, ela não espera uma repetição do superaquecimento do passado, mas também não descarta essa possibilidade. "O que tem permitido uma desaceleração da inflação é o menor reajuste em administrados e os preços comportados dos alimentos. Mas, ano que vem, esse quadro deve mudar", diz. Sua projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de alta de 6% em 2013.

últimas notícias