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IMÓVEL PARA FAIXA MAIS ALTA DO "MINHA CASA" SOBE DE PREÇO E AFETA PROGRAMA

13.10.2010

A forte valorização do mercado imobiliário tornou mais difícil encontrar imóveis abaixo de R$ 130 mil, valor teto do programa Minha Casa, Minha Vida , nas regiões metropolitanas. Apartamentos na cidade de São Paulo, que antes se enquadravam no programa, estão sendo vendidos hoje por preços acima do teto e deixando de servir ao público com renda até dez salários mínimos. No bairro Ipiranga, na zona sul da capital paulista, no fim do ano passado, os apartamentos de dois quartos do edifício Pinhal III foram vendidos por R$ 126 mil no lançamento. Hoje, as últimas unidades estão à venda por R$ 195 mil, uma valorização de 55%.

Fernando Leal, proprietário da consultoria GPI Imóveis, responsável pela comercialização do empreendimento, diz que a razão da elevação do preço é o aumento de custo. "Hoje não é possível construir um apartamento igual por menos que isso", diz.

No lançamento do programa habitacional, em abril de 2009, a maior preocupação das construtoras era a viabilidade de investir em imóveis para atender famílias com renda até três salários mínimos dentro do preço teto - cerca de R$ 50 mil. Hoje, nos grandes centros, porém, já se fala em dificuldade para atender todas as faixas, e o preço dos terrenos é o maior fator de pressão de custo.

O desempenho dos investimentos para as faixas mais altas do programa - de seis a dez salários mínimos - está, inclusive, aquém do voltado para a baixa renda. Segundo o mais recente balanço da Caixa Econômica Federal, de 27 de setembro, a efetivação dos contratos (assinatura de financiamento pelas famílias) alcançou 75% da meta no grupo de zero a três salários mínimos, 69% na faixa de três a seis salários, e 39% entre seis e dez mínimos. O número de propostas apresentadas para a faixa de zero a três salários mínimos ultrapassou em 54% a meta, enquanto para a faixa de três a dez mínimos, as propostas representam 79% da meta.

Construtoras relatam que já é quase impossível construir imóveis de até R$ 130 mil na cidade de São Paulo. "Está muito perto do limite na capital. Temos um lançamento previsto em São Paulo no Minha Casa, Minha Vida, mas deve ser um dos últimos", diz o diretor de marketing da construtora Cury, André Camargo. O empreendimento fica em Vila Prudente, zona leste de São Paulo. A empresa tem hoje 10,5 mil unidades em andamento pelo programa, das quais, 6,5 mil para o público com renda de três a dez salários mínimos.

Segundo o diretor da Cury, mesmo na periferia está complicado por conta da valorização do terreno, principal custo na construção. Em Itaquera, zona leste da capital, por exemplo, o aumento do preço em um ano foi de cerca de 35%, de acordo com a construtora. "Já não dá mais para construir apartamentos com três quartos dentro do preço-limite do programa", diz ele. Uma das saídas adotadas recentemente pela Cury para reduzir custos é enxugar a área de lazer.

A construtora MRV também tem dificuldades para desenvolver novos projetos até R$ 130 mil. "Teoricamente é possível construir dentro desse valor, mas na prática estamos no limite", diz Leonardo Corrêa, diretor-executivo da MRV.

Na região metropolitana de São Paulo, a valorização dos imóveis de dois quartos dentro do preço do programa foi de 11%, desde meados de 2009, segundo dados da Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio (Embraesp), especializada em consultoria imobiliária. O percentual está acima da inflação do período, de 4,5%.

"É um aumento significativo dentro desse perfil, justamente onde não deveria, já que o programa é para combater o déficit habitacional", diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp. Mesmo que o empreendimento tenha sido financiado pela Caixa como parte do Minha Casa, Minha Vida (aparecendo entre as propostas em análise no balanço da Caixa), se ele ultrapassa o valor de R$ 130 mil depois de lançado, o comprador não consegue mais adquirir utilizando os subsídios do governo.

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