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POR QUE AS PESSOAS DEIXAM SEMPRE PARA A ÚLTIMA HORA

14.02.2012

Recentemente fui almoçar com um amigo. Profissional competente, influente, com uma carreira invejável. Fazia um certo tempo que não nos víamos. No meio da conversa, ele revelou que deve acontecer nos próximos meses uma grande mudança na empresa onde trabalha e ele está angustiado com a possibilidade da sua saída. A preocupação é justamente com o que vai ser depois. Procura outro emprego como executivo? Parte para uma atividade diferenciada como dar aulas e participar de conselhos de administração? Dá um tempo e tira um sabático? Enquanto esse meu amigo falava, uma pergunta não saía da minha cabeça: mas por que raios todos eles deixam para tomar as decisões sobre mudanças na última hora? Por que as pessoas, mesmo as mais experientes e calejadas, não se preparam? Por que não tomam atitudes quando a situação ainda está sob controle? E isso não acontece apenas em grandes momentos como a aposentadoria, mas em qualquer transição de carreira, seja dentro da própria organização ou fora dela. Vamos olhar para o caso de um executivo ou executiva que ocupa o cargo de presidente de empresa, perfil com o qual eu lido no meu dia a dia. Qualquer um que assuma esta posição, seja ele ou ela um profissional de mercado ou dono/herdeiro de uma empresa familiar, precisa saber que sua função tem prazo de validade - e quanto mais alto o nível, mais as possibilidade se afunilam. Não digo que a pessoa tenha de atuar o tempo todo pensando na sua saída, mas é fundamental que o profissional enxergue que está vivendo um ciclo e que terá de planejar o próximo. A carreira precisa de cuidado diário e as reflexões devem fazer parte da rotina! Está certo que nem tudo acontece como planejado. Mas é fundamental que os indivíduos dediquem uma parcela do seu tempo para pensar na própria carreira e na própria vida. Dessa forma, seus planos serão sempre revisitados e dificilmente ele será pego de calças curtas. Aconselho que todo profissional tenha conversas frequentes sobre carreira com pessoas de sua confiança, seja um amigo, um coach, um mentor ou sua esposa/marido. Muita gente - especialmente os executivos de primeiro nível nas organizações - vem falar comigo apenas quando seu ciclo terminou, sem que tenha havido qualquer planejamento prévio. Chegam já angustiados como aquele amigo que mencionei aqui. E qual a consequência de não fazer o planejamento da carreira e deixar para tomar as decisões no último minuto? A principal delas é você correr atrás de uma solução específica para o seu problema, e não de um projeto de vida. Se o processo não for feito de forma organizada, a solução pode não ser a melhor. E quem tem tempo a perder? As rupturas precisam ser bem trabalhadas. Quando uma transição é feita de forma abrupta, podem sobrar cacos. Sair de uma relação desgastada não faz bem para o executivo nem para a empresa. Relacionamentos são abalados e laços, rompidos. Mas, afinal, por que as pessoas agem assim, mesmo sabendo que devem se preparar para qualquer mudança? Em primeiro lugar, pelo medo do desconhecido - e qualquer novo passo a ser dado geralmente se volta para o desconhecido. Outra resposta pode ser a comparação com um estudante que deixa para fazer o trabalho da escola na última hora: ele sempre acha que vai dar tempo, mas no final faz tudo correndo e o resultado fica abaixo do esperado. O terceiro ponto que eu destacaria é simplesmente o comodismo. É muito mais fácil não mexer no que está dando certo e esperar que alguém tome alguma decisão por você. Acho engraçado observar que algumas ansiedades, que são intrínsecas aos seres humanos, não se limitam aos níveis hierárquicos. Aquela sensação de que determinada situação só acontece com você é uma delas. Para minimizar isso, converse com outras pessoas e verá que há muita gente passando por isso também. Aproveite para aprender com os erros e acertos delas. Se você acha que ninguém percebe que você está derrapando, está novamente enganado. Sem saber, você pode estar criando um desgaste para sua própria imagem dentro e fora da organização. Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados

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