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BB, CAIXA E PESSOA FÍSICA SUSTENTAM CRÉDITO

27.09.2012

As projeções divulgadas ontem pelo Banco Central indicam que a desaceleração do crédito no Brasil, em 2012, só não será mais acentuada graças aos bancos públicos. Diante da ordem do governo para ajudar na sustentação da demanda doméstica da economia, além de manter o ritmo do ano passado, que não foi fraco, eles exibirão crescimento muito mais vigoroso que o da banca privada, principalmente no crédito a pessoas físicas, incluindo o habitacional. A carteira dos estatais deverá fechar o ano com variação de 24%, praticamente a mesma taxa do ano passado (23,75%), e não mais de 21%, como o BC previa até então. Para os bancos privados de controle nacional, a projeção foi mantida em 10%. Isso reforça a tendência de desaceleração nesse segmento que já vinha se observando em relação ao ano passado, apesar das reduções de taxas de juros anunciadas nos últimos meses por grandes instituições como Bradesco e Itaú. A carteira dos bancos privados de controle estrangeiro deverá crescer 13%, mais que em 2011 (8,5%), ainda assim muito menos que a dos públicos. O BC fez nova revisão de projeções depois de aproximadamente cinco meses de agressivas campanhas publicitárias e de redução de juros da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil (BB) para incrementar suas operações. O governo conseguiu fazer com que os bancos privados seguissem o exemplo e também cortassem juros. Mas as projeções indicam que eles não estão conseguindo ou não pretendem seguir os estatais também no que se refere ao ritmo de crescimento do crédito, até porque a inadimplência mostra resistência. A taxa de expansão prevista para o estoque total de crédito subiu de 15% para 16% exclusivamente em função do desempenho esperado dos bancos públicos. Os dados dos oito primeiros meses do ano antecipam que as operações com pessoas físicas serão as principais responsáveis pela expressiva taxa de crescimento do crédito no segmento estatal em 2012. Até agosto, sem contar os financiamentos habitacionais - que também são em sua maioria diretamente concedidos às famílias -, essa fatia da carteira aumentou 13,6%. Nos bancos privados nacionais, a elevação foi de apenas 5,3% e nos estrangeiros, de 5,4%. O saldo dos financiamentos habitacionais concedidos diretamente a famílias e a cooperativas de habitação subiu ainda mais expressivamente que o das demais operações com pessoas físicas. Mas esse é um fenômeno comum a todo o sistema financeiro, estatal e privado. O crédito habitacional foi a modalidade que mais cresceu em oito meses (24,7%), muito acima da média da totalidade da carteira (8,9%). O avanço foi de 26,4% nos bancos públicos, 21,8% nas instituições privadas nacionais e de 15,6% nas de controle estrangeiro. Os bancos públicos vêm sustentando também o crescimento do crédito a pessoas jurídicas. O volume de operações das instituições estatais com a indústria, com o comércio e com o setor de serviços aumentou, respectivamente, 5,1%, 8,8% e 12,3%. Nas instituições privadas nacionais, o incremento foi somente de 3,8%, de 1% e de 1,1%, respectivamente. Nos estrangeiros, a taxa de expansão só foi maior no caso das operações com indústria (8,1%), pois para o comércio e para o setor de serviços, ficou, respectivamente, em -1% e 7,2%. Consideradas todas as modalidades, o saldo das operações cresceu até agosto 14,5% nos bancos públicos, modestos 4,2% nos privados de controle nacional e 5,6% nos bancos estrangeiros. A carteira do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social cresceu no acumulado de janeiro a agosto somente 5,5%, muito abaixo da média registrada pelo segmento financeiro estatal como um todo. Isso é uma evidência de que o que vem puxando o avanço são as operações de Caixa e BB. Em 12 meses, as operações dos bancos estatais cresceram 26,8%. A projeção para o ano calendário de 2012 (24%) ainda indica, portanto, alguma desaceleração, embora mais branda do que a esperada pelo BC em junho, quando se projetava crescimento de 19% para o crédito dos bancos públicos. Ao mesmo tempo, o menor crescimento das operações do BNDES ajuda a explicar por que o aumento do estoque de crédito para pessoas jurídicas (7,3% no ano) do sistema financeiro todo foi inferior ao do crédito a famílias (10,9%). A diferença fica mais acentuada quando se olha a evolução do crédito direcionado, que cresceu 17,7% para pessoas físicas e 5,5% para empresas. O BNDES opera basicamente com empresas e só com recursos direcionados. O estoque de crédito com recursos de livre aplicação pelos bancos, por outro lado, aumentou mais para pessoas jurídicas (8,4%) do que para as famílias (7,8%) nesses oito meses. As projeções do BC para 2012 apontam que o crédito direcionado vai crescer 20% e o livre, 14%. A projeção subiu apenas para o crédito livre (era de 13%). Isso indica que a expectativa da autoridade monetária é de que os bancos públicos também ajudem a incrementar o crédito livre. O governo entende que o crédito tem sido importante elemento de sustentação da demanda doméstica da economia, motivo pelo qual não tem hesitado em fazer dos bancos federais uma ferramenta para elevar sua oferta. Não é de hoje que o desempenho das instituições estatais está bem à frente. Pelo menos desde 2008, elas vêm crescendo mais do que as privadas. A diferença é que em 2012, ao contrário das privadas, elas não perderão ritmo, o que também ocorreu em 2011. Mesmo mais ousados na concessão de crédito, os bancos públicos ainda têm inadimplência menor que os concorrentes privados. Em relação ao total de operações com recursos livres e direcionados, aquelas com pelo menos uma parcela em atraso há mais de 90 dias representavam 1,9% no caso do sistema financeiro estatal, no fim de agosto. A inadimplência dos bancos privados de controle nacional era de 5,2% e a dos privados de controle estrangeiro, de 5,7%. Os números divulgados ontem pelo BC mostram ainda que a carteira das instituições estatais alcançou R$ 1,011 trilhão no fim de agosto, saldo 1,9% superior ao de julho. O saldo dos empréstimos e financiamentos dos bancos privados nacionais aumentou 0,8% e terminou o mês em R$ 828,279 bilhões. A carteira das instituições de controle estrangeiro cresceu ainda menos, só 0,3%, fechando agosto em R$ 370,835 bilhões. O BC também divulgou dados de fluxo de novas concessões. A média diária caiu pelo segundo mês consecutivo em agosto, desta vez 1,3%. Em julho, tinha recuado 10,1% em relação ao mês anterior. Além de voláteis por causa de sazonalidades, os números do fluxo, no entanto, pegam só o crédito com recursos livres e mesmo assim nem todo. Ficam de fora o crédito direcionado todo e ainda financiamentos habitacionais com recursos livres. Por isso, as projeções em relação ao estoque oferecem um panorama melhor da tendência. Na série dessazonalizada pelo BC, a média diária de concessões teve ligeira alta e não queda em agosto, disse Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC, sem dar o número. Já para o Itau, a média diária, na série com ajustes sazonais, caiu 2% em agosto, após redução de 4% em julho.

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