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PREVI INVESTIRÁ MAIS EM IMÓVEIS E VAREJO

17.11.2010

Ricardo Flores que, em junho, passou a comandar a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil), o maior fundo de pensão do país, assume no dia 25 a presidência do conselho de administração da Vale. Entra em momento delicado diante dos rumores de que o presidente da companhia, Roger Agnelli, poderia deixar o cargo.

 

Nesta entrevista ao Valor, Flores enfatiza as conquistas da empresa na administração Agnelli, mas é cauteloso, embora sutilmente crítico, quanto ao envolvimento da maior empresa privada no país em questões político-partidárias. Para ele, "essa discussão não é uma pauta da Vale", diz, embora reconheça que o período de eleições favoreça esse tipo de clima. "O habitat da Vale é o mundo corporativo", afirma.

Prudente, Flores diz que vai "pesquisar e identificar" se há desvios no processo de gestão da companhia. "Se há desvios, esses precisam ser corrigidos", frisou.Com patrimônio de R$ 141 bilhões consolidado até setembro, o fundo de pensão do BB na gestão de Flores terá participação forte em investimentos em infraestrutura, imóveis comerciais e no segmento das grandes redes de varejo. A Previ pretende buscar oportunidades de negócios em lojas voltadas para o consumo crescente a partir do aumento da renda da população brasileira. A proposta é a Previ tornar-se sócia de uma empresa bem estruturada que atue no setor de varejo.Pernambucano de Recife, Flores, de temperamento calmo e elegante, afirma ter orgulho de presidir a Previ. Aos 46 anos, ele considera que este é o maior desafio profissional da sua carreira. Ele começou como menor aprendiz no BB, aos 14 anos. Na primeira oportunidade, fez concurso para o BB, indo trabalhar em Brasília, onde ficou por 32 anos e fez carreira. No banco, exerceu os cargos de diretor de reestruturação de ativos, diretor de seguros, previdência e capitalização e foi vice-presidente de governo. Na época da crise econômica foi deslocado para ser vice-presidente de crédito do banco, quando foi designado para comandar o maior fundo de pensão do país por Altemir Bendini, presidente do BB. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O sr. será indicado dia 25 como presidente do conselho da Vale em substituição a Sérgio Rosa.

Ricardo Flores: Serei aprovado na reunião do conselho e assumo o cargo no próprio dia 25. É uma substituição natural, uma vez que a Previ é um dos principais acionistas da Vale. Sérgio Rosa cumpriu um papel importante e como foi designado para presidir a BrasilPrev, não haveria razão também para não se fazer esse ajuste.

Valor: Como se sente ao assumir o conselho de uma empresa cujo presidente (Roger Agnelli) é alvo de rumores por ter criado uma "saia justa" com o PT?

Flores: Estarei assumindo focado em exercer a função de presidente do conselho de administração de uma empresa relevante mundialmente, absolutamente estratégica e relevante para os sócios. A Vale é o maior ativo da Previ que, individualmente, é a maior sócia. Vejo essa função com muita responsabilidade. Quero dar uma contribuição para que a Vale continue trilhando o caminho do sucesso, de rentabilidade, de lucratividade, de diversificação.

Valor: A Previ está satisfeita com a gestão atual da Vale? Os rumores sobre a saída do presidente têm fundamento?

Flores: Eu acho que o que sintetiza melhor a resposta para essa pergunta é que temos convicção de que tudo pode melhorar, inclusive a gestão da Vale. Quero dizer o seguinte: os sócios estão satisfeitos com seu ativo Vale, tendo em vista a importância que essa empresa adquiriu e em vista a relevância dos resultados para a composição das receitas dos sócios. Estamos, sob o aspecto da rentabilidade, satisfeitos. Agora, um ponto específico que eu acho que pode e deve ser melhorado para os sócios é que tenhamos um aperfeiçoamento. Acho que essa discussão político- partidária que se estabeleceu em torno da Vale não agrega valor à companhia. A discussão com viés um pouco mais político e partidário não é uma pauta da Vale.

Valor: Mas o próprio Roger Agnelli concedeu entrevistas falando sobre a questão política. Isso preocupa ou é compreensível por ser o presidente de uma empresa desse porte?

Flores: As discussões que tangenciaram as eleições acabaram favorecendo esse tipo de clima. Digamos assim, é natural num processo de democracia. O que nós entendemos é que não é positivo que a Vale fique dentro de uma discussão interminável, polêmica, seja sobre essa questão que vocês citaram e foi atribuída a ele, ou não. A gente não quer que a Vale fique dentro dessa discussão.

Valor: Vai haver uma orientação dos conselheiros nesse sentido?

Flores: Acho que isso já está acontecendo. Ou seja, a Vale já está num clima de mais tranquilidade, voltando ao mundo corporativo. O habitat dela é o mundo corporativo. E não as páginas de jornais com declarações polêmicas. O que queremos dizer é o seguinte: a Vale tem uma pauta extensa para trabalhar e que não deve, digamos assim, o seu executivo, ou a Vale ou seus sócios gastarem energia com discussões que não são próprias da sua atividade.

Valor: O senhor assume a presidência do conselho sem intenção de fazer mudanças? Os diretores que saíram se queixaram muito da postura de Roger Agnelli. A diretora Carla Grasso, por exemplo, é acusada de fritar executivos.

Flores: Na matéria que vocês produziram no Valor, o que me chamou a atenção é que trabalharam nela quatro jornalistas. Deve ter gerado uma pesquisa muito grande. Tendo em vista a credibilidade do jornal e dos jornalistas e das questões ali colocadas, é evidente que, dentro do processo natural de governança corporativa que a empresa tem, das hierarquias, é evidente que as questões lá pontuadas vão ser trabalhadas no sentido de gerar um aperfeiçoamento para a própria Vale. Evidentemente, aquilo que vocês colocam são sinais que precisam ser pesquisados. Agora, eu particularmente não acho razoável qualquer direcionamento que vá na linha de demonizar A, B ou C ou pedir cabeça de A, B ou C. Acho que estas questões têm que ser tratadas dentro de um grau de naturalidade, de pesquisa, de identificação. Se há desvios, estes precisam ser corrigidos. E dependendo da natureza dos desvios, são corrigidos de uma forma ou de outra. Há vários caminhos. Não há como dizer a aqui que a correção vai ser feita assim ou de outra forma até porque ainda não cheguei à presidência do conselho.

Valor: O sr assumiu a Previ em junho e teremos um novo governo. O senhor avalia que haverá mudanças na Previ?

Flores: Acho que a função de presidente da Previ é uma função estatutária. A definição é uma indicação que compete ao banco (do Brasil) fazer. O que eu acho importante ressaltar, mais do que a gente ficar avaliando como foram os bastidores da minha vinda para cá, é a gente poder discutir um pouco o futuro, o trabalho que está sendo feito.

Valor: Qual será o foco dos investimentos na sua administração?

Flores: A nossa visão é de que o Brasil já vive uma década que chamamos da infraestrutura. Então, a gente entende que nesse guarda-chuva da infraestrutura residem várias oportunidades de investimento e que são compatíveis com um fundo de pensão. Nossa visão de fundo de pensão é uma visão de longo prazo, que tem que pagar benefícios atuais e futuros a seus associados. A gente paga anualmente R$ 6 bilhões em benefícios. Estamos falando de um país que cresce anualmente a taxas positivas, que o mundo procura oportunidades no Brasil e que residem em boa parte no guarda-chuva da infraestrutura. A gente quer atuar aqui na Previ no que chamo de conjunto intercessão, ou seja, se for bom para o país e for bom para a Previ e se encaixa dentro das nossas políticas de investimento e permite dar retorno adequado a nossos associados, por que não fazer? O que precisa é estar sintonizado com nossa política de investimentos, gerar a rentabilidade adequada para Previ e associados e ajudar o país a ser ainda melhor. O país e tem na sua agenda uma Copa e uma Olimpíada pela frente.

Valor: A Previ vai investir no trem-bala?

Flores: Na questão do trem-bala, a Previ tem uma empresa chamada Invepar que tem sócios como Funcef, Petros e OAS. É uma empresa que tem seu chassi voltado para estradas, metrô, portos e aeroportos. Temos técnicos que estão analisando o projeto do trem-bala. Temos a própria Invepar que tem contratado estudos sobre esse projetos. Os estudos ainda estão sendo concluídos para que possam gerar massa crítica para uma decisão.

Valor: Quando o senhor assumiu havia a discussão entre a fusão da CPFL e da Neoenergia. A imprensa vem falando que a Iberdrola não teria concordado com o negócio. Quais são os planos da Previ para as duas empresas?

Flores: A Previ está tanto na CPFL como na Neoenegria. Nosso papel como acionista é apoiar nos seus planos de negócios e buscar, sendo sócios das duas, que tenham cada vez mais sinergias para serem compartilhadas, para que possam agregar um valor maior aos acionistas. A discussão, no caso da Previ, não passa pela ideia que muitas vezes se viu na imprensa. Nós achamos que o setor de energia elétrica é estratégico, vital, principalmente para um país que está numa década de infraestrutura e precisa crescer. Um setor que retroalimenta. Não queremos perder posições nesse setor que é vital.

Valor: A Oi está passando por restruturação societária com a entrada da Portugal Telecom. Qual ficou sendo a participação da Previ?

Flores: Ficou em 9,76% (na Telemar Participações).

Valor: A Previ ficou satisfeita com o resultado da negociação?

Flores: Foi uma bela discussão técnica negocial, onde o assunto foi evoluindo, as questões foram sendo colocadas à mesa e houve um processo normal de amadurecimento. No final, os fundos não vão perder nenhum poder político. Mantivemos nossa representatividade nos conselhos, o quórum de decisão foijustado à qualidade dos nossos votos, assim como os outros fundos também. Mas falo sempre pela Previ. E o preço que está sendo concluído também passou a ser considerado atrativo. Não posso falar quanto porque os acordos estão sendo fechados.

Valor: O fechamento vai ser anunciado no Oi Day em Nova York no dia 30?

Flores: Não, a formatação vai ser anunciada no final da primeira ou na segunda quinzena de dezembro. Até para dar tempo dos fundos caminharem nas aprovações e levarem para seus boards. Os profissionais envolvidos estarão trocando minutas lendo a documentação final para poder fechar a formatação.

Valor: A Previ vai aumentar investimentos em alguma área específica?

Flores: Vamos investir mais em imóveis em função do boom imobiliário. A Previ estuda investimentos em prédios comerciais modernos que respeitem mais e mais o meio ambiente e sejam bem localizados porque a gente com isso tem boas receitas de aluguel além da valorização do ativo e tende a crescer no regime de taxa de juros declinante. Hoje respondem por 2,91% dos investimentos totais. A meta é chegar 5%. Para isso precisaremos investir R$ 4 bilhões até 2013.

Valor: Nesse sentido, o balanço da Previ do terceiro trimestre aponta que a maior rentabilidade do período foi em imóveis?

Flores: A rentabilidade de imóveis em 2010 foi de 11% no acumulado até setembro e de 16% em 12 meses. O total de investimentos rendeu (na média) 5,56% e ainda está abaixo da meta atuarial que foi de 8%. Os investimentos em renda variável registraram rentabilidade baixa de 2,62% por causa da Bolsa (de Valores). A carteira de ações da Previ soma R$ 90 bilhões e representa 63,54% dos investimentos totais da fundação. Os negócios em renda fixa renderam 9,64% até setembro. No acumulado de nove meses, o patrimônio (da Previ) alcançou R$ 145, 1 bilhões. Em em 2009 (no mesmo período), estava perto de R$ 140 bilhões. Até setembro, a fundação apresentou superávit acumulado no balanço de R$ 42,8 bilhões.

Valor: E quais outros setores que serão privilegiados?

Flores: Este ano nós já participamos do aumento do capital do Banco do Brasil , do qual somos sócios, e mantivemos nossa participação. Pagamos perto de R$ 1 bilhão, mantendo a participação de 10,64%. Nós participamos da capitalização da Petrobras. O que quero dizer é que os recursos têm limite. Temos que escolher bem

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