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BILLINGS, AINDA EXISTE VIDA

28.03.2013

Mesmo castigada pela poluição ao longo dos anos, a Represa Billings, que completa 88 anos hoje, ainda dá claros sinais de vida. Prova disso é que o reservatório serve de ganha-pão para uma família de pescadores que mora no entorno da Billings, em São Bernardo. "Tem gente que acha que não tem mais peixe aqui, mas a pesca está bem melhor agora do que antigamente", disse Benedito Aparecido Bueno Hessel, 60 anos, que com a mulher, Iolanda, 56, encara as águas do maior reservatório da Região Metropolitana todos os dias para colocar dinheiro em casa.

A história de Seo Dito Bueno, como é conhecido na vizinhança, se confunde com a da represa. Ele mora em uma travessa da Estrada do Rio Acima, aproximadamente um quilômetro de distância da Balsa Riacho Grande, há cerca de 30 anos. "Nasci na beira da Billings. Pesco desde criança. Minha esposa também veio de família de pescadores e trabalha comigo nisso até hoje. É algo que vem de família. Meu pai, que também era pescador, viu a represa nascer."

No entanto, o casamento com as águas do reservatório teve duas separações. Na década de 1980, sofrendo com a poluição, a represa não estava para peixe e Dito foi embora para Barra Bonita, cidade do interior do Estado, continuar a trabalhar no que aprendeu desde pequeno. Lá ele morou por seis anos. Voltou para a casa no Grande ABC, mas, em 1998, o pescador foi novamente embora da região, desta vez para Anhembi, cidade próxima de onde havia morado, às margens do Rio Tietê. Voltou sete anos depois e vive à margem da represa até hoje.

A pesca continua sendo sua paixão. Durante a tarde, por volta das 17h, a rede é jogada e deixada na água para fisgar os peixes. Faça sol ou chuva, como ontem de manhã, Dito sai com o barquinho a motor com a mulher para tirar os pescados que foram pegos na armadilha logo cedo. "Às 5h da manhã já estamos na água. Independentemente do tempo, essa é nossa rotina. Todos os dias fazemos a mesma coisa."

Além da mulher, Dito conta com a parceria de longa data de Mario Hengli, 60. Eles trabalham juntos há 40 anos e são dois dos mais antigos pescadores de São Bernardo, que conta com cerca de 350 pessoas vivendo desse tipo de atividade. "Tenho carteira assinada como pescador desde 1975. Só vou parar o dia em que meu corpo não aguentar mais", disse Hengli.

Por dia, são pescados, em média, 20 a 30 quilos de peixe por cada trabalhador. Isso resulta em renda de um a três salários-mínimos por mês, que atualmente equivale a R$ 678.

Dito pensa em dar entrada na aposentadoria, mas não pretende largar a paixão. "Enquanto puder trabalhar, vou continuar pescando. Não é só pelo trabalho, faço isso porque gosto. Não há nada que pague esse contato com a natureza. Não sei o que será de mim se algum dia tiver que sair da beira da água."

Recuperação das águas segue distante, mas pesca é bom sinal

Para a bióloga e pesquisadora da Represa Billings pela USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Ângela Marcondes, o reservatório está longe do ideal, com muitos pontos críticos, mas o fato de haver famílias vivendo da pesca na represa é um bom sinal. "Nesse braço das águas a visão dos pescadores é bacana e eles conseguem fazer a pesca de várias espécies. Mas é de grande importância ficar claro que a represa não é só isso. Existem áreas que estão extremamente comprometidas. Ainda é preciso melhorar. Apesar de tudo, a visão de quem está lá no dia a dia é positiva. Essas pessoas, principalmente os mais antigos, são a vida desse reservatório.

Segundo Ângela, um dos trechos mais ruins fica embaixo de onde passa o Trecho Sul do Rodoanel Mário Covas. "Houve grande assoreamento naquela área, que prejudicou demais a qualidade da água. Foi aterrada uma parte do braço para poder passar o pontilhão e não houve nenhuma recuperação do local. Estive lá há um mês e pude ver que é um trecho horrível."

Outra crítica da pesquisadora é sobre o sistema de reversão de águas do Rio Pinheiros para a Billings em época de enchentes na Capital. "Temos uma série de estudos que apontam quantidade de lodo muito grande naquela área. Ainda nem sabemos quais materiais nocivos estão nesse trecho. A reversão aconteceu por vários anos e os resultados foram terríveis."

Ações estão em andamento no reservatório

Algumas ações de recuperação da Billings estão em andamento na região com o objetivo de melhorar a qualidade das águas do reservatório, que abastece as casas de cerca de 1,8 milhão de pessoas. A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) possui o Pró-Billings, programa integrado de melhoria ambiental em área de manancial.

Por meio da ação, a estatal prevê realizar obras de ligações domiciliares de esgoto, assentamento de 100 quilômetros de redes coletoras, 33 quilômetros de coletores tronco e estações elevatórias para exportação do esgoto até o tratamento na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) ABC. Serão beneficiadas as subbacias Alvarenga e Lavras (bairros Senhor do Bonfim, Parque Hawai, Sítio Bom Jesus, Esmeralda, entre outros) e as subbacias adjacentes (Jardim Laura, Las Palmas, Pinheirinho, Los Angeles, Represa, Imigrantes, entre outros).

O projeto está dividido em três etapas, sendo que duas já foram iniciadas. A última fase está em processo de contratação de empresa para execução dos serviços. "A previsão é que todo o projeto seja finalizado entre 2015 e 2016. As mudanças vão beneficiar cerca de 260 mil pessoas", disse a gerente da unidade de gerenciamento regional da Sabesp na Billings, Nercy Bonato.

O secretário de Gestão Ambiental de São Bernardo, João Ricardo Guimarães, disse que o município possui plano para regularização de áreas ocupadas às margens da Billings e projetos habitacionais para quem mora em mananciais, com base na legislação específica do reservatório.

A meta da secretária do Meio Ambiente de Diadema, Denise Ventrice, é buscar recursos para transformar as margens da represa no bairro Eldorado em balneário náutico.

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