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ANCHIETA, 66 ANOS E MUITAS HISTÓRIAS PARA CONTAR

22.04.2013

Em 22 de abril de 1947 era inaugurada a primeira fase da rodovia, ligação de São Paulo ao Litoral


Nesta segunda-feira (22/04), a inauguração da primeira pista de subida da via Anchieta completará 66 anos. A nova rodovia, um projeto ousado para a época, com pistas duplas, pavimentação em concreto e cimento em todo o percurso, 18 pontes, 58 viadutos e cinco túneis, foi um marco na história brasileira e, em especial para o ABCD, que se beneficiou economicamente da ligação entre a Capital e o Litoral.

Cerca de 2.000 operários trabalharam na construção da primeira fase da Anchieta, que seria completada 14 anos depois, em 9 de julho de 1953, com a entrega da segunda pista da Serra do Mar. O perigo rondava quem trabalhava no canteiro de obras no topo da serra, como lembra o empresário Augusto Toldo, 70 anos, filho do engenheiro responsável pela construção da Cota 400, Ettore Toldo.

“Era muito comum ocorrerem acidentes devido à queda de barreiras. Uns morriam, outros se feriam com gravidade. Como no local não tinha médicos, minha mãe atuava como enfermeira”, lembrou Toldo, que passou a infância morando no acampamento de casas de madeira no alto da Serra do Mar. A família ficou no local de 1939 a 1947.

“Além do meu pai, que era engenheiro civil, o meu tio Domingos trabalhava na construção. Eles andavam sempre de polainas e botas, porque havia muitas cobras, escorpiões e aranhas na mata”, recordou. A chuva constante dificultava o trabalho e era comum a caça de perdizes, porcos do mato e tatus para comer.

Escuridão na mata

Durante a 2ª Guerra Mundial, os trabalhos eram feitos somente de dia. Ao cair da noite, nenhuma luz era permitida no acampamento, para não denunciar às embarcações no Litoral a localização do canteiro de obras. O medo de um ataque pairava sobre os homens.

Apesar de participar da construção, o pai de Augusto criticava o investimento em estradas. “Ele era mais favorável à construção de ferrovias para escoar a carga e levar passageiros.” 

Após a finalização das obras da Cota 400, em Cubatão, a família Toldo mudou-se para Santa Catarina. Mas o amor por São Bernardo os trouxe de volta alguns anos mais tarde, e se estabeleceram no Bairro Rudge Ramos. “Tenho muito orgulho dessa história, da importância do trabalho do meu pai para o desenvolvimento da Região”, destacou Toldo.

Papel econômico

De acordo com o jornalista e historiador Ademir Médici, a via Anchieta teve papel fundamental para atrair as grandes montadoras e diversas outras empresas para o ABCD, já que facilitava o acesso ao Porto de Santos. “Trouxe muito desenvolvimento e ajudou a tornar a Região uma das mais importantes do País”, enfatizou.


Trabalhador ainda vive no bairro que surgiu do acampamento

Com a obra da rodovia a todo vapor, acampamentos foram construídos para os trabalhadores, um deles na altura do km 20 – o acampamento do DER, sigla do Departamento de Estradas de Rodagem do Estado de São Paulo. Em 165 casas de madeira ficavam operários vindos de vários pontos do País.

Com a inauguração da rodovia, o DER recolheu as máquinas, mas a maioria dos operários optou por continuar ali. “Eram ruas de terra e havia muitas árvores, pés de limão e paineiras. Como não tínhamos luz, o DER fez uma ligação com a Vila Euclides”, recordou o aposentado Pedro Antônio Leite, 79 anos, que trabalhou na segunda fase da construção. Ele é o último trabalhador que ajudou nas obras da Anchieta que ainda vive no bairro que surgiu do acampamento.

Com a expansão da cidade, houve uma explosão habitacional no DER. Os descendentes dos operários ganharam vizinhos e o lugar se transformou em uma comunidade carente. Poucas casas de madeira com uma pequena varanda ainda sobrevivem ao lado de construções de alvenaria. Pedro tem quatro filhos, nove netos e três bisnetos. Toda a família vive no DER, à espera das políticas públicas que viabilizem a escritura da casa.

“Eu já me acostumei com o bairro, gosto daqui. Mas acho que a urbanização deveria ser mais acelerada”, lamentou o aposentado. A reclamação é dividida pelo presidente da Associação Comunitária do DER, Sérgio Luis do Nascimento, 46, nascido e criado na comunidade. “O terreno todo pertence à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), que há quatro anos paralisou os projetos habitacionais por aqui. É muita burocracia e toda vez que tentamos reuniões, não somos atendidos”, relatou.

Aproximadamente 12 mil pessoas vivem hoje no DER, sem possuir a escritura das casas em que moram. O bairro, apesar disso, é considerado bom pelos moradores, em função da proximidade com o Centro e o acesso a escolas e postos de saúde.

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