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PROJETO NA GAVETA DE UM LADO, EXPANSÃO DO OUTRO

07.10.2010

Os shopping centers vivem uma situação rara ao redor do mundo. O setor, que sempre apresentava desempenho semelhante nos diferentes países, agora verifica resultados diversos, inclusive em mercados da mesma região, como Estados Unidos e Canadá, na América do Norte.

 

"O que temos hoje é muito, muito único", afirmou em entrevista ao Valor Michael Kercheval, presidente da International Council of Shopping Centers (ICSC), associação internacional do segmento, com sede nos EUA. A mudança ocorreu há cerca de três anos, quando muitas economias se afastaram da tendência global comum. "Todos tinham desempenho melhor ou pior, talvez em taxas diferentes, mas iam juntos na mesma direção. Pela primeira vez, a performance dos shoppings não é a mesma nas diferentes partes do mundo", acrescentou Kercheval.

Nos EUA, país que tem a maior área de lojas em shoppings por habitante, o setor tem encolhido e os novos projetos foram guardados na gaveta, diante da crise financeira e a consequente retração do consumo. O adiamento de projetos também tem sido verificado na Europa ocidental, com exceção da Alemanha, cujos shoppings seguem mais a tendência dos mercados da Europa oriental, onde o setor avança a passos largos.

Dentre os emergentes, como é de praxe, a China se destaca com a alta do consumo. A América Latina segue a mesma tendência e se tornou um grande centro de atração de grupos internacionais, que têm se aliado às empresas locais para elaboração dos projetos. A exceção da região é o México, cuja dependência da economia americana tem prejudicado as vendas.

Duas outras exceções saltam aos olhos. Segundo Kercheval, no Oriente Médio, principalmente em Dubai, onde os empreendimentos apresentaram um boom há alguns anos atrás, está sendo observado um engavetamento dos projetos. "No Oriente Médio, já existem shoppings demais para uma pequena população. Agora, as novas construções pararam para esperar o mercado crescer", explicou o executivo. A outra exceção está entre os maduros: o mercado de shoppings no Canadá cresce a cada ano e tem atraído empreendimentos com a alta disponibilidade de recursos naturais e do crescimento do consumo.

O Brasil também é um caso à parte. Michael Kercheval ressaltou que os shoppings no país têm apresentado bom desempenho, mas o potencial de crescimento é o que realmente tem chamado a atenção internacional. Um cenário tão positivo desenhado vem, segundo o presidente da ICSC, do sucesso dos empreendimentos brasileiros em atrair a classe média. O Brasil foi um dos primeiros países emergentes a adotar modelos de shoppings que diferenciam grupos de consumo e se focam nas classes mais ricas. Mas, ao longo do tempo, os grandes grupos foram abrindo esse modelo e conseguiram atrair consumidores com menor poder aquisitivo.

"Esperamos que aconteça o mesmo na China e na Índia, onde o varejo voltado para a classe média ainda é fraco. Os proprietários por aqui perceberam que não se consegue fazer dinheiro vendendo para os super-ricos. Eles viram que os ricos mesmo preferiam ir a Paris fazer suas compras", afirmou Kercheval. Neste contexto, muitas oportunidades para os shoppings aparecem com o avanço da classe C e há uma tendência de que os novos projetos já venham desenhados para atrair esse público. Mas, para o executivo, as classes D e E também estão na mira. "Eu acredito que a nova geração de shopping centers se volte para as classes de baixa renda em vários países, como no Brasil e na África do Sul", concluiu.

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