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CHINA DÁ SINAIS DE NÃO SER MAIS UM ÍMÃ DE CAPITAL

17.10.2012

A China, depois de anos atraindo capitais internacionais, agora está vendo o dinheiro vazar. Ricos cidadãos chineses estão comprando condomínios à beira-mar em Chipre, pagando preços altíssimos para seus filhos estudarem nos Estados Unidos e se abarrotando de produtos de luxo em Cingapura. E, com frequência, transferem seu dinheiro secretamente, por meio de uma próspera rede de agentes especializados. As empresas chinesas, por sua vez, estão adquirindo grandes firmas estrangeiras, estocando recursos naturais e deixando que os lucros de seus empreendimentos estrangeiros se acumulem no exterior. A China não divulga informações sobre a entrada e saída de capitais desde o ano passado, mas é possível avaliar os fluxos utilizando dados de comércio exterior, reservas cambiais e outras estatísticas econômicas. Uma análise desses dados feita pelo The Wall Street Journal sugere que nos 12 meses até setembro cerca de US$ 225 bilhões saíram da China, igual a cerca de 3% da produção econômica do país no ano passado. "Todos nós notamos aquilo que já suspeitávamos, ou seja, que houve uma fuga de capital significativa", diz Michael Pettis, professor de finanças da Universidade de Pequim, que já presenciou de perto uma fuga de capitais em sua carreira anterior, quando negociava dívidas de alto risco da América Latina. "Não é bom sinal quando os empresários locais começam a achar que é melhor deixar o dinheiro fora do país, especialmente quando a economia mundial está numa situação tão ruim." Oficialmente, a China mantém uma conta de capital fechada, ou seja, ela restringe a capacidade das pessoas e das empresas de mandar dinheiro para fora do país. As pessoas físicas chinesas não estão autorizadas a transferir mais de US$ 50.000 por ano para o exterior. As empresas podem trocar yuans por moedas estrangeiras apenas para certos fins comerciais, tais como pagamento de importações ou investimentos estrangeiros aprovados. Na realidade, esse sistema fechado tem se tornado mais poroso, e as regras são ignoradas rotineiramente. "Na China os ricos sempre tiveram uma conta de capital aberta", diz Eswar Prasad, economista da Universidade de Cornell e ex-funcionário do FMI. Zheng Nan recentemente gastou US$ 390.000 em um condomínio à beira-mar em Chipre. Aos 50 anos, ele diz que está aposentado do seu negócio de venda de equipamentos de telecomunicações na China para fabricantes estrangeiros. "Meu plano é passar o inverno em Chipre, devido à poluição em Pequim", diz ele. "E voltar no verão." O limite anual de US$ 50.000 para enviar capitais para fora da China foi um problema para Nan. Ele disse que conseguiu contornar a restrição pedindo a amigos que transferissem partes do seu capital para fora do país, usando seus próprios nomes. Agentes imobiliários na China dizem que essa é uma prática comum e amplamente tolerada pelas autoridades. Durante anos, a economia chinesa se beneficiou de grandes fluxos de dinheiro que entraram no país, vindos das exportações e de investidores estrangeiros. Os dólares que entravam eram trocados por yuans no banco central chinês, injetando mais yuans na economia. Isso facilitava os empréstimos bancários e o crescimento das empresas. Quando o dinheiro sai do país, esse sistema se inverte, e há menos dinheiro disponível para financiar o crescimento. A saída de dinheiro começou a se acelerar em meados de 2011, quando a preocupação com o desaquecimento econômico, a pouca valorização do yuan e a queda das ações e do preço dos imóveis tornaram menos atraente guardar o dinheiro na China. Já houve outras fases em que o dinheiro deixou a China, mais recentemente durante a crise financeira, quando atingiu um pico de cerca de US$ 110 bilhões nos 12 meses encerrados em março de 2009, segundo indicam os cálculos do WSJ. A saída ajuda a explicar por que os bancos chineses têm mantido o crédito baixo este ano. Uma aceleração na saída de capital pode obrigar o banco central a forçar uma valorização maior do yuan em relação às moedas estrangeiras, para incentivar os investidores chineses a conservar seu dinheiro no país. A Administração Estatal de Câmbio, que faz parte do banco central chinês, disse em um comunicado que a China experimentou "certo grau de saídas de capital" no primeiro semestre deste ano. O órgão atribuiu as saídas, em grande parte, a mais investimentos no exterior feitos por empresas e indivíduos chineses. Informou ainda que não teme que as saídas possam desestabilizar a economia. Em 1998, na crise financeira asiática, a Indonésia viu o equivalente a 23% da sua produção econômica anual deixar o país - porcentagem muito superior aos estimados 3% que saíram da China durante o período mais recente de 12 meses. A economia chinesa está protegida contra saídas catastróficas pelas suas restrições à remessa de capital e por suas fortes reservas em moedas estrangeiras, de US$ 3,29 trilhões. A estimativa do WSJ de US$ 225 bilhões para o ano encerrado em setembro reflete tanto as saídas de capital legais como também uma parte dos fluxos ilícitos. Vários economistas também já tentaram calcular as saídas. Charles Dumas, da firma de pesquisas Lombard Street Research, estimou uma saída líquida de US$ 300 bilhões no mesmo período. Para medir o volume das saídas, o WSJ comparou as mudanças nas reservas cambiais do país com alterações nos principais componentes que fazem as reservas aumentarem ou diminuírem: o superávit comercial, o investimento estrangeiro direto, os juros sobre os ativos estrangeiros e o movimento das taxas cambiais.

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