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ABRAINC PEDE FIM DE TARIFA DE IMPORTAÇÃO DE MATERIAIS

01.03.2021

Pressão de custos de insumos, como aço, cimento, fios de cobre e PVC, é apontada como o maior desafio para as incorporadoras de imóveis



Empresas de incorporação imobiliária, por meio de sua entidade, a Abrainc, solicitou ao governo federal, por meio do Ministério da Economia, a suspensão temporária das alíquotas de importação de materiais de construção, segundo o Valor apurou. A pressão de custos de materiais tem sido considerada o maior desafio para incorporadoras e construtoras, principalmente na cidade de São Paulo, onde o mercado imobiliário é mais pujante.

“Há conversas com o governo para ver o que é possível fazer, por um determinado período, para que os fornecedores de materiais mantenham os preços”, conta uma fonte do setor. No momento, Abrainc e Ministério da Economia estão realizando - cada parte, por seu lado - análises técnicas sobre as implicações das importações.

“A construção está bastante sufocada com o aumento dos insumos”, afirma Senra, presidente do Sinduscon-SP

Materiais como aço, concreto, fios de cobre e PVC estão entre os que têm as altas mais comentadas no setor. Conforme a fase da obra, o empreendimento será mais afetado pelos reajustes de materiais básicos ou de acabamento. “A construção está bastante sufocada com o aumento dos insumos”, afirma o presidente do Sindicato da Construção (Sinduscon-SP), Odair Senra.

Segundo o vice-presidente de relações institucionais da Tecnisa, Fabio Villas Bôas, no ano passado, o setor entendeu que as altas de preços praticadas pelos fornecedores de materiais eram um “ajuste” após a retomada da demanda. “Mas, aparentemente, os aumentos não têm fim”, diz o executivo.

Elevações dos insumos têm contribuído para pressionar o indicador de referência para ajustes das parcelas pagas pelo comprador à incorporadora até o recebimento das chaves. Em 12 meses, o Índice Nacional de Custo da Construção - Disponibilidade Interna (INCC-DI) acumulado é de 9,37%. A alta de janeiro foi de 0,89%.

Na avaliação de Senra, do Sinduscon-SP, ajustes acentuados do INCC podem vir a resultar em inadimplência ou distratos se não forem acompanhados por aumento de renda do comprador. “Isso ainda não está acontecendo, mas é uma preocupação de todos nós”, ressalta Villas Bôas.

Os prazos para recebimento dos insumos também está mais dilatado. Na SKR Incorporadora e Construtora, o tempo entre pedir e receber aço de fornecedores pequenos costumava ser de 15 a 20 dias e, das grandes produtoras, por volta de 30 dias. “Agora, nos pedem de 60 a 90 dias para a programação de entrega”, compara Gabriel Junqueira, diretor de engenharia da SKR.

Nos padrões médio e alto, incorporadoras podem repassar as elevações de custos para os preços dos imóveis ainda não vendidos, desde que o novo valor não ultrapasse a capacidade de compra dos consumidores ou torne a unidade pouco competitiva em relação a imóveis semelhantes comercializados na mesma região.

Segundo o diretor financeiro e de relações com investidores da Mitre Realty, Rodrigo Cagali, a incorporadora conseguirá vender lançamentos com elevação de preços para preservar margens, assim como ocorreu em 2020. Já o diretor técnico da Trisul, Roberto Pastor, diz não ser possível repassar aumentos de custos para os preços, o que leva a companhia a buscar outras formas de compensação. “Estamos buscando tornar a construção mais racional e mais tecnológica”, afirma Pastor.

Na baixa renda, repassar os aumentos é ainda mais difícil por causa do teto de preço definido para cada faixa de imóveis incluídos no programa habitacional Casa Verde e Amarela. “Do total de nossas obras, 90% está no programa. Temos tentado fazer as construções em tempo menor, mas não há muito para onde correr”, diz Dante Seferian, presidente da Danpris.

Algumas incorporadoras já se preocupam com a potencial volta do risco de estouros aumentos dos insumos têm comido nossa economia de obras. Em algum momento, pode haver estouro de novo”, diz o vice-presidente da Tecnisa.

O presidente da Direcional Engenharia, Ricardo Gontijo, porém, diz não ver o setor voltar àquela situação de estouro de custos do passado. “O setor aprendeu demais. Houve mudança de processos construtivos que possibilitaram elevar a produtividade. E, lá atrás, o maior problema foi ligado à mão de obra, não aos materiais”, destaca.

Em um cenário mais extremo, construtoras que prestam serviços a incorporadoras podem ter de paralisar obras pela inviabilidade dos custos, no entendimento do presidente do Sinduscon-SP.

A preocupação com a inflação ultrapassa os limites setoriais, de acordo com o executivo de uma incorporadora. O principal impulso para as vendas de imóveis têm sido os juros baixos. Conforme o patamar de alta da inflação, as taxas de juros poderão voltar a subir, alterando a dinâmica favorável ao setor. Não é o que as empresas esperam para o curto prazo, mas trata-se de ponto de atenção.


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