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A VOCAÇÃO DA NOSSA REGIÃO É INDUSTRIAL, AFIRMA MILTON BIGUCCI 

01.06.2021

"A vocação da nossa região é industrial", afirma Milton Bigucci 


Nome: Milton Bigucci

Estado civil: casado

Idade: 79 anos

Local de nascimento: Ipiranga, São Paulo

Formação: direito

Hobby: jogar Futebol

Local predileto: minha casa e minha empresa

Livro que recomenda: Sete Décadas de Futebol, Em Busca da Justiça Social, Construindo uma Sociedade Mais Justa, Caminhos para o Desenvolvimento, Somos Todos Responsáveis – Crônicas de um Brasil Carente (todos de sua autoria)

Artista que marcou sua vida: Il Volo (trio de tenores italianos)

Profissão: construtor

Time do coração: São Paulo

Onde trabalha: Construtora MBigucci

Com 60 anos dedicados à construção civil, recentemente completados, Milton Bigucci tem total confiança no potencial do Grande ABC para o setor, mas cobra que o poder público promova alterações nas leis de uso e ocupação do solo, a fim de permitir melhor aproveitamento dos terrenos, além de reduzir a burocracia e as exigências para aprovação de projetos. O fundador da construtora MBigucci discorda da tese de que a nova vocação econômica das sete cidades seja comércio e serviços. “O setores devem sim existir, pois um depende do outro, mas a vocação da nossa região é industrial. Devemos incentivar a permanência das indústrias.”

Mesmo com a pandemia, que afetou todos os setores da economia, a construção civil se manteve em alta. Em 2020, houve crescimento no número de lançamento. Segundo dados da Acigabc, entre janeiro e março, os novos empreendimentos tiveram alta de 73,9% em comparação com 2020. O que foi determinante para que isso ocorresse?

A verdade é que a construção civil não parou. Adaptou-se, mas não parou. Foi considerada como setor essencial desde o início da pandemia. Tínhamos demanda reprimida desde a última crise do setor (2014 ao fim de 2018). Em 2019, foi o início da retomada. Em 2020, com as pessoas mais em casa por causa da pandemia, a atenção para a compra do primeiro imóvel ou a troca por um maior aumentou, e com isso os estoques foram baixando e os lançamentos voltaram. As taxas de juros ainda em baixa também ajudaram. Na MBigucci, por exemplo, agora em 2021 temos quatro lançamentos em andamento, um em Santo André, um em São Bernardo e dois em São Paulo.

Entre as cidades, Santo André vem se destacando como destino de lançamentos. O senhor acredita que ainda há potencial a ser explorado? Como enxerga o futuro do setor para as demais cidades?

O desempenho para lançamentos nos municípios varia conforme a eficiência da legislação e agilidade na aprovação de projetos. Santo André, assim como o Grande ABC de uma forma geral, tem também a vantagem do custo-benefício, pois são cidades com boa infraestrutura e o custo do imóvel cerca de 20% a 30% menor quando comparado à Capital. O futuro é promissor para a região. O que precisa é as prefeituras mudarem as leis de zoneamento, permitindo volume de construção maior nos terrenos, o que vai baratear o custo do apartamento para o comprador final. Precisa também desburocratizar as aprovações pelos órgãos públicos municipais e estaduais. É muito complexo aprovar um projeto que dará milhares de novos empregos.

Cidades como Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm pouca exploração do setor. Por que isso acontece? Mesmo em Rio Grande, cujo território está todo em área de proteção ambiental, é possível apostar na construção de imóveis?

Exatamente por conta das restrições da lei de zoneamento e grandes áreas de proteção ambiental nestas cidades, a atratividade é menor.

As leis de ocupação de solo e zoneamento de cada município, muitas vezes, representam entraves. Que mudanças seriam importantes para o fomento do setor na região e o que já foi feito?

As leis de ocupação e uso do solo e zoneamento são fundamentais para o desenvolvimento das cidades. Essas leis têm de ser elaboradas com a opinião da sociedade civil e também dos setores regionais, indo além dos interesses econômicos. Os cidadãos querem morar em uma cidade moderna, bonita, mas ao mesmo tempo funcional. Quanto às mudanças, temos muito a evoluir em relação ao coeficiente de aproveitamento de ocupação, dentre outros aspectos. Em terrenos que poderiam ser construídos 100 apartamentos, por exemplo, pelas leis, podem apenas 50, o que encarece para o comprador.

Quando esteve à frente do Secovi, o senhor atuou na questão dos distratos. Em 2018, a desistência do imóvel novo pelo proprietário foi regulamentada pelo governo federal. Qual foi a importância dessa medida?

A importância foi total, pois os distratos foram um episódio negativo sem igual para a construção civil, pelo qual muitas empresas quebraram. Não havia lei, cada juiz dava uma sentença diferente, percentuais diferentes (de 60% a 90%) para devolver em dinheiro ao cliente, quando havia quebra de contrato por parte dele. Ou seja, as empresas precisavam ter três dinheiros iguais para construir: um para comprar o tijolo, outro para pagar o empréstimo no banco e outro para devolver ao cliente, se ele distratasse. Tive chance de conversar com o presidente Michel Temer sobre isso, no fim de 2018, quando eu era diretor do Secovi, e ele disse que iria editar uma lei neste sentido e cumpriu. A Lei 13.786/18 foi sancionada em 28 de dezembro de 2018. Hoje temos uma lei normatizando essa questão, como qualquer país civilizado, onde as duas partes respondem pelo que foi acordado. Isso gerou segurança para ambos os lados e retomou a alavancada da construção.

O senhor está no setor da construção há 60 anos. Quais as principais diferenças entre os empreendimentos daquela época e os de atualmente?

Naquela época, quando comecei (anos de 1960), no Grande ABC eram construídas muitas casas térreas e sobrados; prédios, praticamente nenhum. Posteriormente, a região foi se verticalizando, permitindo que mais pessoas tivessem moradia. Hoje tudo está mais moderno: lofts, estúdios, condomínios-clubes com áreas de lazer completas, até com salões de beleza, espaço pet, conveniência etc. Tecnologicamente tudo foi adaptado também, vagas para carro elétrico, automatização, biometria. E a pandemia também trouxe novos espaços, como o coworking, home office, espaço delivery. Também temos os empreendimentos mistos, que unem comerciais e residenciais no mesmo imóvel.

Aliás, muito se ouve falar que antigamente era muito mais fácil conseguir um financiamento, inclusive porque o BNH (Banco Nacional da Habitação) era grande facilitador do crédito. Até que ponto essa é uma verdade?

Na época em que comecei não tinha financiamento fácil, os bancos tinham ojeriza de financiar habitação, principalmente a popular, pois não queriam ficar presos 15 anos com um cliente que poderia ficar desempregado e se tornar inadimplente no sistema. Hoje as facilidades são imensas, juros bem menores, prazos cada vez maiores. Há muita oferta de crédito no mercado. Entretanto, o financiamento para habitação de interesse social como o Casa Verde Amarela (Minha Casa, Minha Vida) é quase que privativo da Caixa, o que, na minha opinião, deveria ser obrigatório para todos os bancos. Aliás, sou da opinião de que os bancos deveriam financiar todas as pessoas: classes alta, média e baixa.

Com relação a financiamento, era bastante comum as próprias construtoras adotarem o financiamento direto. Hoje, basicamente, o comprador depende apenas dos bancos. O que mudou?

Hoje o comprador tem financiamento dos bancos e também das construtoras. A MBigucci, por exemplo, mantém o financiamento direto em até 120 meses. É bem mais simples e ágil, principalmente na comprovação da renda. O que ocorre é que pelas instituições financeiras o procedimento costuma ser bem mais burocrático, apesar dos juros menores.

Como o senhor enxerga o Grande ABC economicamente hoje? Afinal, a região sofre com a desindustrialização e o fechamento de empresas, como a Ford. Em contrapartida, há aumento no número de comércios e serviços. O senhor acredita que essa é, de fato, a nova vocação?

Não. Acho que deveria haver incentivos para que as indústrias se instalassem nos municípios. Essa moda, que são os setores comercial e de serviços, não é vocação. Acho que não podemos perder a vocação industrial. Os setores devem sim existir, um depende do outro, mas a vocação da nossa região é industrial. Devemos incentivar a permanência das indústrias e o aumento dos empregos.

E a questão da tecnologia? Como as empresas da construção podem ajudar a desenvolvê-la desde os canteiros de obra até os empreendimentos?

O setor já vinha implementando novas tecnologias não só para vendas, mas para o sistema construtivo. Com a pandemia tudo isso foi acelerado. Não só as vendas se tornaram mais digitais, com tours virtuais, imagens 3D, mas os projetos também se adaptaram, incluindo vagas específicas para carregamento de carros elétricos, biometria, automatização, tomadas USB, além de adaptações para atender à pandemia, como espaços de home office, delivery, como já mencionei. Os canteiros de obra também se modernizaram, além de novos equipamentos e sistemas construtivos, 100% do gerenciamento das obras já é feito com plataformas digitais.

A MBigucci vem apostando também em galpões e condomínios industriais na região. O Grande ABC ainda comporta esse tipo de empreendimento?

Na minha opinião, acredito muito no Grande ABC e em condomínios industriais e de logística, uma vez que muitas empresas estão buscando galpões próximos aos centros urbanos, o que faz do Grande ABC um grande atrativo. A MBigucci já entregou dois, um em Diadema e outro em São Bernardo, e estamos construindo um centro logístico em Santo André.

Atualmente, o que mais atrapalha o desenvolvimento da construção civil na região? Ainda há entraves burocráticos? O que o poder público pode fazer?

São exatamente os entraves burocráticos que prejudicam e atrapalham, e muito, não só o desenvolvimento da construção, mas encarecem também o custo do imóvel. Essa burocracia excessiva tem que ser analisada pelo poder público para simplificar as aprovações. Com menos burocracia e aprovações mais ágeis, o setor consegue diminuir o valor do imóvel. Hoje em dia é mais rápido construir um imóvel do que tirar a documentação dele.

Como as empresas do setor estão se adaptando ao ESG (Environmental, Social, and Governance – Governança Social e Ambiental)?

Brinco dizendo que a MBigucci mais parece uma ONG de projetos sociais e ambientais. É Big Riso, de voluntariado em hospitais de câncer infantil; Big Vida, de sustentabilidade ambiental; Big Conhecimento, para estudantes, com visitas e estágio nas obras; Big Vizinhança, para a comunidade do entorno da obra; Big Ideias, de inovação. A responsabilidade social e ambiental deve fazer parte do gerenciamento de todas as empresas e não somente as do nosso setor. Não fazemos nada sozinhos, um depende do outro, dentro e fora da empresa, e dependemos todos do meio ambiente em que vivemos. Essa cultura do social vem de longe. Em 1981, fundei com amigos do Lions Clube Rudge Ramos o Lar Escola Pequeno Leão, em São Bernardo, que na época era um orfanato e hoje é um lar de acolhimento, onde temos mais de 50 crianças. Fundei também, nos anos de 1980, o Campi (Círculo de Amigos do Menor Patrulheiro), no Ipiranga, que já formou mais de 11 mil jovens com estágios. Enfim são ações sociais que precisam muito mais de vontade e atitude do que de dinheiro. 



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