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BANCO AMERICANO AINDA PERDE COM CRÉDITO IMOBILIÁRIO

18.08.2010

Embora haja uma queda na inadimplência em financiamentos imobiliários nos Estados Unidos, os bancos do país se veem diante de uma nova rodada de prejuízos com empréstimos que fizeram pouco antes da crise financeira, e a briga para mantê-los fora de seus balanços está se intensificando. Na linha de frente da ofensiva para que os bancos que concederam os empréstimos os comprem de volta estão as duas gigantes hipotecárias controladas pelo governo que garantiram os financiamentos, a Fannie Mae e a Freddie Mac. As empresas estão vasculhando os empréstimos não quitados em busca de sinais de irregularidades nas "representações e garantias". Em essência, procuram mentiras contadas pelos tomadores ou financiadores nos formulários do empréstimo. A Freddie informou na semana passada que vai começar a tomar medidas mais duras contra os bancos que enrolarem nas recompras, agora que está renegociando seus contratos para renovar acordos de vendas de empréstimos desses bancos. A Freddie informou que havia recebido US$ 2,7 bilhões dos bancos em recompras durante o primeiro semestre, ante US$ 1,7 bilhão no mesmo período de 2009. O número de pedidos de recompra que não haviam ainda sido honrados saltou de US$ 3,8 bilhões em fins de junho do ano passado para US$ 5,6 bilhões 12 meses depois. Embora seja improvável que a empresa rompa com seus parceiros, ela pode usar as renegociações para forçar os bancos a acertar as recompras. Os bancos estão reagindo. "É uma luta empréstimo por empréstimo", disse o diretor-presidente do Bank of America Corp., Brian Moinyhan, a investidores em março. "Esta é uma guerra que vai durar um tempo." Em 6 de agosto, o Bank of America informou que tem US$ 11,1 bilhões em exigências de recompra que não haviam sido resolvidas, um aumento de 46% em apenas seis meses. Os financiamentos devolvidos estão aumentando rápido, à medida que os investidores tentam desviar as perdas de volta para suas fontes e pôr um fim aos resquícios do colapso financeiro. Quando os bancos recebem os pedidos para que recomprem os créditos, eles muitas vezes tentam forçar outros bancos que concederam os empréstimos originais a recomprá-los. Considerando que há centenas de bilhões de dólares em hipotecas em atraso em jogo, "essas batalhas podem perdurar por anos", diz Christopher Whalen, diretor-gerente da Institutional Risk Analytics. "Temos pelo menos mais dois anos de sofrimento." Os grandes bancos podem estar perto de enfrentar o pior de suas perdas com recompras, já que os compradores originais estão no momento verificando os piores anos para a concessão de crédito, particularmente 2006 e 2007, diz Gerard Cassidy, analista da RBC Capital Markets. "À medida que o setor se livra desses empréstimos", disse ele, "os que entram no lugar não têm garantias tão ruins assim." Os bancos estão contratando um exército de advogados e auditores para contestar essas opções e pedidos de recompras. Eles também pediram ajuda às seguradoras de hipotecas. Essas seguradoras podem rescindir a cobertura do seguro dos empréstimos, o que geralmente leva a Fannie e a Freddie a devolver esses empréstimos. Os bancos começaram a pagar adiantado às seguradoras para não ter que lidar com as rescisões e recomprar os créditos. A Fannie alertou que pode contabilizar mais perdas se as seguradoras não rescindirem os empréstimos, porque isso pode render menos oportunidades de a hipotecária conseguir as recompras. Os bancos também têm reclamado que a Fannie e a Freddie estão forçando-as a recomprar empréstimos que foram pagos durante dois ou três anos, caso não consigam apresentar um pretexto qualquer, como dívidas não divulgadas, avaliações errôneas do valor do imóvel ou falsificação da renda, de dados sobre o emprego ou da avaliação de crédito. Um representante do Bank of America disse que o banco "tem um histórico estabelecido de lidar com [empresas apoiadas pelo governo] para atender a pedidos de recompra e já estabeleceu um precedente acordado mutuamente do que é um defeito válido". Um representante do Wells Fargo & Co. disse que o banco "continua a ter um relacionamento aberto e produtivo com as agências, inclusive a Freddie Mac, enquanto cooperamos para solucionar juntos o mais rápido possível os pedidos de recompra". Um porta-voz do Citigroup Inc. disse: "Acreditamos que estamos posicionados adequadamente para as recompras com os US$ 727 milhões em reservas atuais que temos para esse propósito." O J.P. Morgan Chase & Co. não quis comentar além do informe às autoridades. Os esforços para diminuir os prejuízos com empréstimos ficaram mais agressivos mês passado, quando o órgão que regulamenta a Fannie e a Freddie, a Agência Federal de Financiamento Imobiliário, passou a apoiar um esforço maior para resgatar empréstimos dos chamados títulos de marca própria emitidos por Wall Street durante a bolha, sem a garantia da agência. O órgão já intimou 64 emissores de títulos ligados a hipotecas e outros envolvidos para analisar se é possível forçar a recompra dos títulos. O Federal Reserve de Nova York deu a entender em agosto que também pode forçar algumas recompras, após revisar investimentos que incorporou em 2008 com as operações para socorrer o Bear Stearns Cos. e a American International Group Inc. Até agora, os pedidos de recompra atingiram mais os bancos que compraram as grandes financeiras que desmoronaram após conceder empréstimos imobiliários de alto risco durante a bolha. O analista Chris Gamaitoni, da Compass Point Research & Trading LLC, prevê, por exemplo, que o maior prejuízo antes de impostos será do Bank of America, que comprou a Countrywide Financial Corp. em 2008 e deve contabilizar perdas de até US$ 21,8 bilhões. Ele prevê prejuízo antes de impostos de até US$ 6,9 bilhões no Wells Fargo, US$ 6,6 bilhões no J.P. Morgan e US$ 4 bilhões no Citigroup. Mesmo assim, o alto número de recompras não diminuiu o entusiasmo de muitos analistas pelas ações de bancos. Num relatório divulgado após o Bank of America comunicar sua mais recente operação de recompra, Betsy Graseck, do Morgan Stanley, diz que suas estimativas de lucro já incluem US$ 17 bilhões em despesas com "representações e garantias" até 2014. E, embora seja provável que os grandes bancos sobrevivam à tormenta, suas tentativas de empurrar para os outros as recompras podem dificultar as coisas para os credores menores que não são bancos e não têm depósitos ou outras fontes de liquidez. "Virou uma epidemia", diz David Lykken, sócio da Mortgage Banking Solutions, uma consultoria de Austin, Texas. "As opções são negociar, brigar ou falir." (Colaboraram Randall Smith e Marshall Eckblad)

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