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EM SP, EXPANSÃO TAMBÉM ESBARRA NA FALTA DE PROFESSORES

27.04.2011

Laura Laganá, diretora-superintendente do Centro Paula Souza, fala com orgulho de reencontros com egressos dos cursos técnicos que dirige. Alguns hoje trabalham como diretores de multinacionais de software. Outro veio lhe agradecer por ter conseguido tocar sua própria empreiteira e sugeriu uma palestra como agradecimento. A ex-professora de matemática, contudo, avalia que terá problemas para pôr em prática o Plano de Expansão do Ensino Profissional do Estado de São Paulo, iniciado em 2007. A ideia era saltar das então 77 mil vagas para 177 mil até 2010, mas, para este ano, serão oferecidas 128 mil. Com o salário oferecido para professores no Centro, é difícil competir com a indústria por profissionais qualificados.

Para lecionar em algumas disciplinas do ensino técnico, é necessário ter diploma de nível superior. A hora-aula paga pelo governo estadual é de R$ 10,57. Dessa forma, um profissional em início de carreira, em período integral, receberá por volta de R$ 2 mil mensais, segundo estimativa do Centro Paula Souza. O Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sinteps), descontente com a situação, reivindica, entre outros benefícios, a recomposição salarial de 58,9% para docentes. O valor é resultado da diferença entre a inflação e os reajustes realizados no período entre 1996 e 2010, segundo cálculos do Conselho de Reitores das Universidades Estaduais de São Paulo (Cruesp). Para a presidente do sindicato, Neusa Alves, a dificuldade para contratar professores atinge a maioria das escolas técnicas (Etecs) e há a possibilidade de greve.

O Centro Paula Souza é a instituição responsável pelo ensino técnico no Estado de São Paulo. Além das Etecs, a autarquia é responsável também pelas faculdades de tecnologia (Fatecs). Para atender a expansão de vagas, foram construídas novas unidades e está em andamento uma parceria com a Secretaria de Educação estadual para ocupar salas de ensino ociosas durante o período noturno. O então governador José Serra considerou a expansão uma das prioridades do Estado. Para Laura, a falta de professores é o "único fator limitante da expansão".

Além das Etecs, o ensino técnico em São Paulo é atendido pelo Serviço Nacional de Aprendizado Industrial (Senai). Na instituição, filiada à Confederação Nacional da Indústria (CNI), um instrutor com nível superior tem salário inicial em torno de R$ 4 mil para uma jornada de 40 horas semanais. O piso salarial de um engenheiro em São Paulo é de R$ 4.632 (8 horas diárias) e, segundo o Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (Seesp), a maioria dos formandos sai da faculdade com proposta de emprego, por causa da demanda aquecida.

O gerente de ensino no Senai, Ricardo Santa Rosa, entende que o salário pago pela entidade é intermediário entre o do setor público e o do mercado. Santa Rosa atribui às relações com a indústria a oferta de interessados em trabalhar como instrutor e acredita que a instituição não vai ter problemas nesse sentido, pois conseguiu dobrar o número de vagas de formação entre 2008 e 2010. O Senai tem um programa próprio de formação para seus docentes.

Um dos centros afetados pela falta de professores é a Etec Zona Sul, na capital paulista. Segundo a administração da escola, a unidade precisaria ter 90 professores, devido à criação, em 2008, de cinco salas descentralizadas, em Centros Educacionais Unificados (CEUs), da Prefeitura de São Paulo.

Nesse período, foram realizados dois concursos públicos para contratação de docentes, que também são usados para a formação de cadastros para contratos temporários, com duração máxima de um ano e possibilidade de renovação por mais um. Quando há falta de professor por afastamento, aposentadoria ou morte, por exemplo, os selecionados nesse processo são convocados.

No semestre passado, a Etec Zona Sul teve a necessidade de substituir dois professores de eletrônica e abriu um processo seletivo em caráter excepcional. A escola, atualmente, não possui cadastrados para reposição e tem duas disciplinas sem professor, segundo a direção.

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