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APOSTA NA CONTINUIDADE DA DESACELERAÇÃO DO CRÉDITO

05.07.2011

O Banco Central (BC) fez uma aposta ousada ao prever que o crédito vai crescer pouco no segundo semestre, contrariando as poderosas forças sazonais que buscam turbinar as vendas de fim de ano com fartas facilidades financeiras.

Em consequência das medidas macroprudenciais tomadas a partir de novembro e da elevação do juro básico (Selic), que já acumula 1,5 ponto neste ano, o crédito vem desacelerando lentamente, mantendo taxa de crescimento próxima dos 20,6% de 2010. Em maio, ao chegar a R$ 1,804 trilhão, o estoque de crédito exibia uma expansão de 20,4% em 12 meses, depois de ter atingido 21% em abril.

Depois de divulgar esses números, na semana passada, o Banco Central cravou a estimativa de que o crédito aumentará 15% neste ano. Para cumprir a previsão, o crédito deverá crescer 1,19% ao mês daqui para a frente, praticamente mantendo o ritmo médio mensal de expansão registrado de janeiro até agora, de 1,13%.

A nova previsão do BC está dentro da margem que o presidente do banco, Alexandre Tombini, considera aceitável para a evolução do crédito dentro da política de combate à inflação. Mas supera os 13% anteriormente esperados e, ainda, pressupõe significativa desaceleração em comparação com o desempenho do ano passado e que a evolução do estoque de crédito mantenha o modesto ritmo atual, sem a habitual exuberância de fim de ano. Até agora, o crédito só desacelerou no segundo semestre em 2008, quando a crise internacional atingiu em cheio o Brasil.

O comportamento recente do crédito deve ter inspirado a aposta arriscada do BC. Em maio, pela primeira vez no ano, a oferta de empréstimos diminuiu tanto para empresas quanto para pessoas físicas. As empresas foram mais prejudicadas, uma vez que a média diária de recursos oferecidos a elas diminuiu 5,2% de abril para maio, para R$ 5,175 bilhões. Já a concessão média diária para pessoas físicas encolheu 4,6%, para R$ 3,482 bilhões.

A elevação dos juros do crédito, causada pelas medidas macroprudenciais e pela alta da Selic, e o consequente aumento da inadimplência explicam o recuo das concessões de crédito. A taxa de juro do crédito para as empresas subiu quase 2,5 pontos desde novembro, quando as medidas de aperto começaram a ser tomadas, para 31,1% ao ano, em maio. O juro para pessoas físicas saltou 7,7 pontos para 46,8% ao ano.

Não por acaso, a inadimplência (considerando os atrasos acima de 90 dias) atingiu o maior patamar em um ano, de 5,1% das operações, sendo 3,9% no crédito para empresas e de 6,4% nos negócios com pessoas físicas.

As medidas macroprudenciais certamente tiveram impacto entre os mais endividados e refrearam as linhas de crédito que estavam registrando crescimento mais explosivo, como o financiamento de veículos e o crédito pessoal. Como salientou o Relatório Trimestral de Inflação recentemente divulgado em box sobre crédito e medidas macroprudenciais, as concessões mensais de financiamento de veículos recuaram de R$ 11,2 bilhões para R$ 8,8 bilhões entre novembro e maio; os juros subiram de 22,8% para 30,4% ao ano; e o prazo médio diminuiu de 51,5 meses para 48,3 meses.

Mudanças de rota como essa esvaziam os temores de organismos como o Banco para Compensações Internacionais (BIS) de uma bolha de crédito no Brasil, embora não devam ser suficientes para conter o entusiasmo de consumidores otimistas com o aumento da renda e do emprego.

Na realidade, há dúvidas se a relativamente suave desaceleração do crédito - inferior à expectativa do próprio presidente do BC - terá contribuição significativa na tentativa do governo de fazer a inflação convergir para o centro da meta. A questão é crucial porque o relatório de inflação ressalta, em vários trechos, que o Comitê de Política Monetária (Copom) considera que a "moderação da expansão do mercado de crédito constitui elemento importante para que se concretize seu cenário central".

O próprio relatório é cauteloso e registra que, desde o primeiro trimestre, aumentou a "probabilidade" de uma moderação na expansão do crédito; e que as informações disponíveis evidenciam "alterações importantes tanto nos preços e prazos praticados quanto nas quantidades de recursos transacionados no mercado de crédito, após a introdução das iniciativas macroprudenciais".

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