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ENXURRADA DE DÓLARES TESTA O PODER DE FOGO DO BC

24.09.2010

O Banco Central (BC) acelerou as compras de dólares no mercado à vista nos últimos dias, sem impacto significativo na cotação do câmbio. As compras líquidas em setembro, até o dia 17, período de apenas doze dias úteis, somaram US$ 5,9 bilhões, de acordo com dados do próprio BC - quase o dobro dos US$ 3,04 bilhões adquiridos em agosto e um quinto dos US$ 24,5 bilhões absorvidos no ano inteiro.

As contas da área econômica do Itaú Unibanco são mais impressionantes. O banco calcula que as compras do BC foram ainda maiores e atingiram US$ 8,4 bilhões em setembro, até o dia 17. As compras totalizavam apenas US$ 768 milhões até depois do feriado, em 8 de setembro. A maior parte das aquisições foi feita depois, a uma média de US$ 1,1 bilhão por leilão. No mês, a média diária ficou em US$ 700 milhões, cinco vezes maior do que os US$ 130 milhões de agosto e quase dez vezes maior do que os US$ 71 milhões de julho.

A maior parte desse dinheiro está indo para a bolsa, atraído pela megavenda de ações da Petrobras. Mais dinheiro vai chegar até segunda-feira, prazo final para internar os recursos a tempo da liquidação financeira da aquisição. Dos R$ 132 bilhões apurados com a venda dos papéis da estatal, estima-se que 20% a 30% podem vir de investidores estrangeiros.

A imagem recorrente usada pelos operadores de mercado de alguém enxugando o gelo parece se aplicar perfeitamente à ação do BC, diante da enxurrada de divisas que está entrando no país. De fato, a atividade frenética do BC na compra de dólares apenas mantém a cotação acima de R$ 1,70 - o que já é alguma coisa.

Por enquanto, o governo ainda está guardando na manga a arma recém-tirada do armário, o Fundo Soberano do Brasil (FSB). A ameaça deixou os especuladores em alerta. Os bancos reduziram a posição vendida em câmbio a vista de US$ 13,7 bilhões no fim de agosto para US$ 11 bilhões em 17 de setembro.

Para os mais céticos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que não vai segurar o câmbio apenas no "gogó", mas também não pretende dar "tiro de canhão em formiga". Felizmente, o governo decidiu coordenar a ação do FSB com a do BC, que vai atuar no mercado comprando os dólares para o fundo, evitando emitir sinais contraditórios para o mercado.

O forte fluxo de recursos externos para o Brasil, que está deprimindo a cotação do dólar para desespero dos exportadores, é também o que está, por outro lado, fechando as contas externas brasileiras.

O déficit em conta corrente aumentou em US$ 2,9 bilhões em agosto, acumulando US$ 31,1 bilhões no ano e US$ 45,8 bilhões em doze meses. O mercado financeiro prevê que o déficit em conta corrente chegará a US$ 50 bilhões no fim do ano, o dobro dos US$ 24,3 bilhões de 2009. A estimativa do Banco Central não fica longe disso: o déficit será de US$ 49 bilhões neste ano, 2,49% do Produto Interno Bruto (PIB) e chegará a US$ 60 bilhões em 2011, 2,78% do PIB.

O aumento das importações, estimuladas pelo crescimento econômico, e de várias despesas associadas como fretes e seguros, o desempenho não tão exuberante das exportações, gastos crescentes com viagens internacionais e remessas de lucros e dividendos em expansão são os principais motivos do déficit em conta corrente.

Nesse balanço, algumas contas se destacam. Uma delas é o aumento da remessas de lucros e dividendos, que devem fechar o ano em US$ 32 bilhões, em comparação com US$ 25,2 bilhões em 2009, e atingir US$ 36 bilhões em 2011. As viagens internacionais deverão custar US$ 10 bilhões ao país neste ano, praticamente o dobro dos US$ 5,6 bilhões de 2009, e US$ 11,5 bilhões em 2011.

Essas despesas estão sendo cobertas pelo fluxo internacional de capital, atraído pelo bom desempenho da economia brasileira e retorno atraente do mercado financeiro local, embalado por juros elevados e operações como a venda de ações da Petrobras. O investimento estrangeiro direto, canalizado para o setor produtivo, deve atingir US$ 30 bilhões no ano, acima dos US$ 25,9 bilhões de 2009, e chegar a US$ 45 bilhões em 2011. Mais vigoroso ainda é o investimento canalizado para o setor financeiro, em renda fixa e ações, que deverá somar US$ 38 bilhões neste ano e US$ 36 bilhões em 2011.

Graças a esse capital externo, as reservas internacionais superaram os US$ 270 bilhões nesta semana, atingindo US$ 271,5 bilhões.

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