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QUEM PAGA A CONTA É O COMPRADOR DO APARTAMENTO


07.08.2015



*Milton Bigucci

Toda vez que as mudanças de lei de zoneamento ou uso do solo nas cidades reduzem a capacidade construtiva dos terrenos há um encarecimento de preço dos imóveis a serem construídos. E quem vai pagar a conta é o comprador do apartamento.

Vários municípios estão estudando e fazendo as suas mudanças de lei e a impressão que passam é que reduzindo o potencial construtivo de cada terreno estão penalizando as construtoras, quando na verdade estão encarecendo os preços dos imóveis para a população. Aumentam a qualidade de vida, mas encarecem o produto final, tornando-o mais distante do comprador.

Quando se aumenta o potencial construtivo ao longo dos corredores de ônibus, monotrilhos ou metrôs está se incentivando a construção nesses terrenos atendidos por transporte coletivo, mesmo que por vezes precário. As prefeituras cobram taxas desse aumento de potencial construtivo das construtoras, as quais repassam para os compradores. É a canalização de recursos do adquirente final para o poder público.

Lembro, há décadas, quando os índices construtivos em algumas cidades chegavam a seis vezes a área do terreno e os preços dos imóveis eram acessíveis ao trabalhador braçal da indústria. Hoje, quanto mais as novas leis diminuem esses índices, mais caro fica o imóvel e mais distante ele fica do trabalhador. Há casos que esses índices chegam a apenas uma vez a área do terreno.

A falsa impressão de que as prefeituras reduzem a capacidade construtiva dos terrenos só para beneficiar a mobilidade urbana e aumentar a qualidade de vida, cai por terra quando se analisa o alto valor pago aos cofres públicos por esses aumentos construtivos legais. Se pagar, constrói-se mais legalmente, mesmo que seja em detrimento da mobilidade urbana. A receita dos cofres públicos é mais importante que o custo final do bem para o comprador.

A miscelânea social, colocando habitações populares em zonas caras também não ajuda. Encarece a habitação social e reduz o valor da habitação da classe média ou rica existente no entorno.

A verticalização existe nas melhores e maiores metrópoles do mundo. Não é cerceando-a que vai atender o trabalhador. Os custos dos imóveis das cidades nas zonas mais distantes do centro são acrescidos dos altos custos para levar água, esgoto, energia e infraestrutura a esses pontos longínquos, dificultando o acesso da casa própria ao trabalhador.

O que falta é mais bom senso e menos sanha arrecadadora, mesmo que haja necessidade.

Sempre a conta é paga pelo comprador do imóvel. Não há milagre.


*MILTON BIGUCCI é presidente da Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras do Grande ABC e da construtora MBigucci, membro do Conselho Consultivo Nato do Secovi-SP e seu diretor para a Região do ABC, membro do Conselho Industrial do CIESP, conselheiro vitalício da Associação Comercial de São Paulo, conselheiro nato do Clube Atlético Ypiranga (CAY). Autor dos livros “Caminhos para o Desenvolvimento”, “Somos Todos Responsáveis – Crônicas de um Brasil Carente”, “Construindo uma Sociedade mais Justa”, “Em Busca da Justiça Social”, “50 anos na Construção” e “7 Décadas de Futebol”, e membro da Academia de Letras da Grande São Paulo, cadeira nº 5, cujo patrono é Lima Barreto.

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